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Por quê?

Sem reformas, dólar vai disparar novamente

Precisamos ter maturidade para ouvir avisos e dizer não ao canto da sereia das soluções fáceis

A língua inglesa possui algumas expressões que não se traduzem facilmente para o português. Um cautionary tale, por exemplo, é uma história que ensina o leitor a ser cauteloso perante os riscos da vida. Em português, é a história para assustar criancinhas. Um conhecido cautionary tale é a história da Chapeuzinho Vermelho, uma menina que desobedece a mãe, pega um atalho por dentro da floresta e acaba em maus bocados com o Lobo Mau.

Outro exemplo de cautionary tale está sendo vivido nos noticiários financeiros.

Durante aproximadamente uma década, o Brasil se comportou como a cigarra da fábula, que passa o verão cantando e esquece de se preparar para o inverno. Como resultado, a dívida pública passou a crescer descontroladamente, e, na ausência de uma reforma da Previdência, vai crescer mais ainda.

As consequências de uma dívida pública crescente deveriam ser conhecidas de todos, mas não custa repetir mais uma vez. Uma dívida crescente aumenta os gastos com pagamentos de juros e pressiona os outros gastos. Pode gerar dificuldades de financiamento da dívida, o que provoca aumento das taxas de juros e inflação alta, com redução do poder de compra dos salários. Para coibir a inflação alta, o governo deve aumentar impostos, subir juros e cortar despesas, o que causa ainda mais dor para a população.

Até agora o Brasil fracassou na tarefa de reformar a Previdência Social e limitar o crescimento da dívida pública. O desafio de aprovar as reformas necessárias passou para o próximo governo.

Semana passada, sentimos os primeiros tremores do terremoto que vai nos vitimar se não aprovarmos as medidas necessárias. A combinação de juros mais altos nos Estados Unidos e a crescente percepção de que a eleição presidencial pode ter dois candidatos populistas no segundo turno atingiu em cheio os mercados financeiros. O preço do dólar subiu para quase R$ 4 e somente após o Banco Central anunciar que inundaria o mercado com US$ 20 bilhões, seu preço se estabilizou a um nível mais baixo (aproximadamente R$ 3,72). A intervenção do Banco Central pode comprar tempo, mas o problema fundamental continua. Sem reformas, o resultado será que a dívida pública brasileira não vai ter compradores, o dólar vai disparar e a inflação voltar ao nosso dia a dia.

Voltemos então para a analogia com o conto de fadas.

Nós, eleitores brasileiros, somos a Chapeuzinho Vermelho dessa história. É nossa responsabilidade escolher o caminho do Brasil nos próximos meses. Alguns candidatos a presidente vão prometer saídas fáceis e vender a ideia de que os problemas são imaginários e não requerem ação alguma. Para eles, a floresta não tem Lobo Mau e a menina pode pegar o atalho com segurança. Precisamos ter maturidade para ouvir os avisos e dizer não ao canto da sereia das soluções fáceis.

O Lobo Mau está à espreita. Não há atalhos para escapar dos problemas. A vida é mais dura que os contos de fadas. Se votarmos errado, não chegaremos à casa da vovó do outro lado da floresta. O Lobo está faminto e convidou um amigo para o jantar –o famigerado Dragão da Inflação.

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