Por quê?

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Por quê?

Quando não deixar o mercado livre?

Se deixarmos o mercado livre, vamos ter carros demais nas ruas e poucas pessoas vacinadas

Não cabe ao governo solucionar todos os nossos problemas e incômodos.

 No entanto, a teoria econômica ensina que alguns problemas não só podem como devem ser resolvidos pelo governo ou por alguma entidade que centraliza o poder decisório, pois decisões individuais descentralizadas de pessoas e firmas —ou seja, do mercado— levam a um resultado insatisfatório.

Para entender isso, precisamos relembrar o que são externalidades.

 Externalidades são efeitos de ações que não são considerados na decisão dos agentes. Quando saímos de carro, por exemplo, provocamos um aumento no tráfego das ruas e diminuímos o bem-estar de todas as outras pessoas que transitam em nossa região; apesar disso, não consideramos o incômodo que causamos aos outros quando tomamos a decisão de usar o automóvel. Não consideramos a externalidade negativa de nossas ações. Nesse caso, cabe ao governo intervir para desincentivar a atividade que gera uma externalidade negativa.

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Vista geral da cidade de São Paulo, vista do bairro de Santana, onde é possível ver a faixa de poluição - Bruno Santos/Folhapress

 Mas também há externalidades positivas. Quando nos vacinamos, reduzimos o risco de contrair doenças, mas também beneficiamos nossos vizinhos, porque reduzimos o risco de transmitir doenças a eles. Para as externalidades positivas, cabe ao governo intervir para incentivar a atividade (exigindo a vacinação na efetivação de matrículas das escolas, por exemplo).

 A teoria econômica nos diz que, se deixarmos o mercado livre, vamos ter carros demais nas ruas e poucas pessoas vacinadas.

 Outro exemplo de externalidade negativa é a poluição do ar por veículos automotivos. Grandes cidades brasileiras sofrem com o fenômeno da poluição e São Paulo não é diferente. A qualidade ruim do ar, principalmente nos meses mais secos, piora a qualidade de vida das pessoas e em alguns casos extremos pode causar até mortes prematuras e condições debilitantes. Em grande parte, as emissões de poluentes por veículos automotores são um dos principais fatores da poluição do ar.

 Pesquisa recente publicada na revista Nature por pesquisadores do Instituto de Física da USP traz uma ótima notícia: aproximadamente metade da poluição causada por veículos em São Paulo é gerada por ônibus e caminhões, que respondem por apenas 5% da frota circulante. Por que é uma boa notícia? Porque o custo de corrigir o problema da poluição é menor do que seria se sua causa fosse mais disseminada.

 Temos então uma externalidade negativa, em que os donos de caminhões e ônibus não levam em conta o efeito de suas emissões sobre a saúde da população e não investem em tecnologias antipoluentes, como melhores filtros.

Para corrigir esse problema, o governo pode exigir padrões ambientais mais elevados nos veículos pesados ou até desenhar programas que reduzam o custo da instalação de filtros nos veículos a diesel, duas soluções mais simples e baratas que expandir o sistema de metrô —que deve ser expandido, não só porque reduziria emissões, mas sobretudo para tornar a cidade mais eficiente, o que já é outra discussão.

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