Por quê?

Especialistas da plataforma Por Quê?, iniciativa da BEĨ Editora, traduzem o economês do nosso dia a dia, mostrando que a economia pode ser simples e divertida.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Por quê?

Bolsonaro em Davos: passou no teste?

O presidente não impressionou investidores nem cometeu nenhum deslize comprometedor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O presidente Jair Bolsonaro estreou no exterior na semana passada, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). Coube a ele a honra de abrir o evento, que conta com representantes importantes da política e dos negócios no mundo. Trata-se de uma oportunidade de apresentar sua agenda ao mundo, especialmente a investidores internacionais que porventura se interessem em colocar dinheiro no Brasil.

O discurso comunicou aspectos importantes. Bolsonaro sinalizou o compromisso com o ajuste nas contas públicas e a estabilidade macroeconômica. Comprometeu-se com a ampla abertura comercial, reconhecendo que nossa economia é demasiadamente fechada. Traçou metas para melhorar o ambiente de negócios – mais especificamente, colocar o Brasil entre as 50 melhores economias nesse quesito ao fim dos quatro anos de seu mandato. Falou, mais uma vez, em combater fortemente a corrupção – algo que certamente vem afugentando empresários sérios dispostos a investir por aqui.

A brevidade (em torno de 6 minutos) foi uma vantagem do discurso. Mas Bolsonaro certamente tinha mais tempo para aprofundar suas ideias. Todo mundo sabe (e, em particular, quem pretende colocar dinheiro aqui) quais os desafios da economia brasileira. A questão central é como resolver o enrosco fiscal e colocar novamente o país no caminho do crescimento. Quais as propostas específicas? O governo tem apoio da sociedade e do congresso para implementar sua agenda?

Veja quando Bolsonaro fala das contas públicas. Apesar de se comprometer com o ajuste, não há nenhuma menção explícita à reforma da Previdência, absolutamente crucial para arrumar o lado fiscal.

Essa falta de aprofundamento ficou evidente logo depois que o discurso terminou. O idealizador do evento, Klaus Schwab, perguntou-lhe exatamente sobre medidas específicas para a economia brasileira. Só então Bolsonaro mencionou a reforma da Previdência, mas sem muitos detalhes (como idade mínima, mudança de regime de repartição para capitalização, abrangência da reforma, viabilidade política etc.).

No fim das contas, o saldo do discurso parece ter sido neutro. Bolsonaro certamente não impressionou investidores, mas não cometeu nenhum deslize comprometedor. A fala do presidente também não trouxe quase nenhuma novidade. Haja vista que a bolsa e o dólar por aqui, no dia do discurso, não apresentaram reação de crescimento ou queda que fosse digna de nota.

Um último ponto importante: no discurso, o presidente ainda se comprometeu com a defesa do meio ambiente. Isso sugere uma quebra em relação a ações anteriores, que pareciam dar pouca ênfase a esse aspecto – como o movimento (mais tarde abandonado) no sentido de extinguir o Ministério do Meio Ambiente e a desistência de sediar a Conferência do Clima. Mais tarde, em outra ocasião, Bolsonaro foi além: garantiu que o Brasil não sairá do Acordo de Paris.

Essa sinalização é relevante não só para limitar o efeito de mudanças climáticas – que envolve cooperação internacional –, mas também para assegurar essa cooperação em outras arenas em que o Brasil tanto necessita se integrar com o resto do mundo – como no comércio internacional, uma das principais bandeiras econômicas do governo Bolsonaro.

Ainda com relação ao comércio, o presidente mencionou comprometimento com a Organização Mundial de Comércio (OMC), organização multilateral que reúne diversos países com o objetivo de reduzir barreiras comerciais. Mais uma quebra em relação à campanha presidencial, em que se enfatizava a busca por acordos bilaterais de comércio (isto é, negociações com países individualmente, e não em bloco como na OMC).

Note que o Acordo de Paris e a OMC são instituições supranacionais, frequentemente identificadas como representantes do “globalismo” por grupos ideológicos que apoiam o presidente. A menção de Bolsonaro a esses acordos multilaterais pode sinalizar que o governo seguirá uma orientação mais pragmática do que ideológica, pelo menos nesses temas. Vejamos se não fica só no discurso “para inglês ver”.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.