Uma montanha de toalhinhas molhadas. Este colunista ouviu outro dia que é assim que algumas corretoras se referem às pessoas físicas. Cada pessoa atraída pelas propagandas de trading agressivo (day trade, stock picking, derivativos) é vista como uma toalha molhada que é torcida até a última gota pela corretora.
A última gota cai quando a pessoa já perdeu o bastante e percebe que entrou numa grande roubada. Nesse ponto, ela já gastou uma bela grana com cursos, palestras, eventos e corretagens.
No maior portal de notícias do mercado financeiro, ligado a uma corretora especializada em pessoas físicas, está sendo anunciado um evento chamado Imersão do Mil ao Milhão, cujos ingressos estão à venda. Do mil ao milhão... Esse título dá a impressão de que, indo ao evento, a pessoa vai aprender a transformar mil reais em um milhão operando na Bolsa.
Como isso poderia acontecer? Uma possibilidade razoável seria a de a Bolsa render, em média, 10% ao ano durante 73 anos. Mas não deve ser disso que o evento trata. As propagandas das corretoras gostam de vender a ideia de alta performance e dinheiro rápido.
Ok, vamos dar uma colher de chá e pensar em cinco anos como prazo "rápido". Para mil virarem um milhão em cinco anos, a estratégia de investimento a ser ensinada deveria entregar absurdos 300% de retorno ao ano. Isso simplesmente não existe. Até pode acontecer, mas por pura sorte (ou informação privilegiada).
É muito ruim para a economia de um país que a Bolsa de Valores seja vista pelas pessoas físicas como um lugar para ganhar dinheiro rápido. A ideia que deveria estar sendo propagandeada é de que a Bolsa é um investimento de longo prazo, de 30, 40 anos.
É uma opção excelente, por exemplo, para um jovem investir para sua aposentadoria. Se essa fosse a cultura, teríamos muito mais dinheiro investido no mercado de capitais, o que ajudaria muito a atividade econômica. Infelizmente não é assim. Toalhinhas molhadas... Que horror!
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