Na semana passada, o IBGE divulgou o dado do crescimento do PIB nacional no segundo trimestre deste ano. O número foi 0,4%, positivo! Apesar de baixo, a divulgação surpreendeu positivamente os mercados, uma vez que muita gente esperava algo em torno de 0,2%.
Esse 0,4% é calculado assim: retira-se a sazonalidade da série histórica (alguns trimestres apresentam, consistentemente, taxas mais elevadas que outros) e, livre dessa complicação, o PIB do segundo trimestre é dividido pelo PIB do primeiro. Foi esse número que aumentou em 0,4%.
Pois bem, como esse dado é referente a três meses, para termos uma ideia do quanto isso significa em termos anuais, o pessoal faz a seguinte conta: [(1+0,004)4 – 1], o que dá 1,61%. Note que esse “método” extrapola os 0,4% para frente, implicitamente.
Outro método empregado pelos analistas consiste em simplesmente dividir o PIB do segundo semestre de 2019 pelo do segundo semestre de 2018. Nesse caso, não há necessidade de dessazonalizar os dados, pois a comparação é feita entre dois trimestres “iguais”. Sob esse critério, o PIB brasileiro cresceu em exatamente 1% ao longo do último ano. É bem pouco.
Bem pouco porque normalmente após muitos trimestres recessivos, as economias tendem a crescer mais rapidamente do que sua própria média histórica. Puro efeito-base. O fato de a recuperação da economia brasileira estar se dando a passos de cágado preguiçoso é preocupante.
Por outro lado, a economia cresceu com os gastos do governo em queda e com as exportações sofrendo devido ao arrefecimento da economia global. O investimento, por sua vez, vem colocando a carinha de fora: cresceu em 5% no período de um ano.
As coisas andam muito travadas, mas o nó górdio está na construção civil, que despencou em 30% nos últimos 5 anos. O desastre é na verdade um espelho da falsa exuberância anterior. Muito da expansão pré-Lava Jato se deu sobre bases corruptas, e agora o medo de ir em cana se tornou bem concreto. Num mundo de assimetrias informacionais, mesmo os honestos ficam temerosos, avessos a qualquer risco.
Não nos entendam mal, o purgar é ótimo sob a perspectiva de longo prazo, espera-se que os negócios nesse importante setor passem a se dar sobre outras e melhores bases. Mas o custo a curto prazo está aí.
O que fazer para acelerarmos essa saída da lama?
Em primeiro lugar, não podemos cair na tentação populista similar à do período entre 2012 e 2014. Já vimos no que dá. Em segundo, engatar a terceira e quarta marchas nas reformas, inclusive a tributária, fomentar abertura econômica, privatizações, concessões e um ambiente confiável de negócios. Por último, é preciso mudar a postura infantil que emana da presidência e de seu círculo próximo.
O tosco tem consequências econômicas sérias: deixa parceiros comerciais furiosos e contribui para aumentar a incerteza doméstica. Menos “Kkkkkkkk” no Twitter, nada de estultices como desenvolvimento sustentável é “fazer cocô dia sim, dia não” e mais seriedade, incluindo respeitar crítica de gente séria, aceitar a veracidade de dados de satélite e não interferir no funcionamento das instituições com objetivos pessoais.
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