Trocas internacionais estão associadas a benefícios mútuos aos países envolvidos. O comércio de bens e serviços permite que países se especializem no que fazem melhor, obtenham outros produtos a preços menores e ampliem a variedade de bens disponíveis a seus consumidores. Fluxos de capitais possibilitam acesso a mais fontes de financiamento para empresas, além de oportunidades para que os investidores diversifiquem seu risco.
Não estou dizendo que não há perdedores associados a comércio e fluxo de capitais. Trabalhadores em setores que sofrem com a competição externa são um exemplo disso. Mas, no agregado, o saldo é positivo. Caso contrário, os países simplesmente se isolariam.
Por isso a questão das sanções à Rússia não é tão simples. Do lado dos países ocidentais, cortar laços envolve não apenas impor custos à Rússia, mas também a si próprios. A Europa Ocidental, por exemplo, depende fortemente da importação de petróleo e gás natural russos. Sanções pesadas podem interromper esse fluxo, reduzindo a oferta de combustíveis e energia. Isso deve levar o preço desses itens, que já subiram muito, às alturas.
Para economias que buscam se recuperar dos efeitos nefastos da pandemia e lutam contra uma inflação elevada, não é uma notícia nada boa.
E quanto mais pesadas as sanções eventualmente impostas, maiores os custos para todos os lados —inclusive para quem as impõe. Isso provavelmente torna reticentes os países ocidentais quanto a aplicarem punições severas aos russos.
Os benefícios das sanções são ainda incertos, já que sua aplicação no passado não conseguiu dissuadir o avanço militar russo. Além disso, muito provavelmente não serão suficientes para gerar uma mudança de regime na própria Rússia —haja vista outros casos como Cuba, Irã e Coreia do Norte, acometidos por sanções pesadas, sem mudanças relevantes em seus governos há anos.
Ou seja, o cálculo econômico para países que consideram sanções não é simples: custos altos a si mesmos, com benefícios incertos. Vladimir Putin apostou que os países ocidentais não teriam estômago para encarar essa conta salgada. Aparentemente, ele estava errado.
Mauro Rodrigues (professor de economia na USP e autor do livro "Sob a lupa do economista") e equipe do Por Quê?
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