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Por quê?

Algumas mentiras que você vai escutar na campanha presidencial

Governo atual vai inventar histórias e parte da oposição vai sugerir o caminho fracassado de sempre

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Neste ano tem eleição presidencial. Antes mesmo de a corrida maluca começar, é bom alertar o público para a enxurrada de besteiras sobre políticas socioeconômicas que vem pela frente. E pelos lados. E pelas costas. É o ano das propostas mágicas e das soluções fáceis. Como no combate à Covid-19, é preciso iniciar já o programa de inoculação. Segue, portanto, uma lista de algumas das mentiras que serão vendidas como verdades incontestes.

A culpa de não termos feito progresso na área social nos últimos anos é do imperialismo/capitalismo internacional (ou algo assim)

Esse é um mito antigo, mas ainda difundido. Sempre que as coisas vão mal, a culpa é de algum ator externo e capitalista. Chega a ser infantil. Até onde saibamos, não há sanções impostas à nossa economia e não estamos seguindo nenhuma cartilha (do FMI, do Consenso de Washington etc.). A culpa é só nossa, mas é duro admitir.

O teto de gastos está restringindo o crescimento

É uma que certamente será alardeada. Vale lembrar que o teto de gastos apenas impede que o país emergente com um dos maiores níveis de tributação —isso, nós— precise seguir elevando impostos para evitar um calote da dívida ou a volta de um processo hiperinflacionário. Mais: a lei não impede mais gastos em educação, apenas prescreve que para tal é preciso gastar menos em outro lugar.

Cédulas de real - Gabriel Cabral - 21.ago.2019/Folhapress

Precisamos de mais investimento público para voltar a crescer

Pois bem, isso foi tentado inúmeras vezes, mas nunca com os resultados esperados. Recentemente, embarcamos nessa, com o BNDES oferecendo crédito para grandes empresas se tornarem monopolistas, com prejuízo –obviamente– para todos nós. Grandes investimentos por meio de projetos estatais podem até ser fator pró-crescimento em economias muito pobres com problemas de coordenação privada. Não é nosso caso (e mesmo se fosse, os problemas de economia política associados a um Estado gestor tornam a empreitada muito arriscada).

Vamos gastar mais com a educação para resolver a falha fundamental da nossa equação socioeconômica

Não há dúvida de que capital humano é uma das nossas maiores restrições ao desenvolvimento: 30% dos brasileiros adultos são analfabetos funcionais. Mas daí para a solução ser gastar mais há um salto gigantesco. Até podemos direcionar mais recursos para essa área, mas só depois de resolvermos o problema de ineficiência do setor de educação pública. Por que temos algumas poucas escolas públicas de excelência e muitas outras onde quase nada se aprende? Como coordenar melhor os incentivos dos professores com os dos alunos? Como promover o bom professor?

A inflação pode ser derrotada sem outros sacrifícios (ou: o Banco Central favorece os banqueiros ao aumentar o juro)

Não pode, infelizmente. Algum sacrifício é inevitável, ainda que sua magnitude possa ser minorada com estratégias inteligentes e críveis. Obviamente não nos referimos a controles de preços ou outras bruxarias, mas, por exemplo, a uma convergência mais gradual, ainda que firme, em direção a uns 3,5% de inflação anual. E a uma colaboração excepcional da política fiscal –que precisa se tornar mais contracionista– em tempos de altas substanciais de preços. Uma observação rápida sobre bancos e juros para os desavisados: quem dá crédito não gosta de juros altos. Você leu corretamente. Juro muito alto atrai mau devedor e isso não é boa notícia para quem empresta.


Esta é uma lista-aperitivo, uma pré-lista. Quando a coisa começar para valer, vai chover baboseira econômica. O governo atual, que pouco fez para nos tornarmos uma economia moderna, vai inventar histórias; e parte da oposição vai sugerir o caminho fracassado de sempre. Estaremos de ouvidos e olhos abertos.

Mauro Rodrigues (professor de economia na USP e autor do livro "Sob a lupa do economista") e equipe do Por Quê?

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