Preto Zezé

Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.

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Preto Zezé

Mulheres negras abraçam o Brasil

A construção de uma sociedade antirracista passa pela direção de mulheres negras

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No mês do Dia Internacional da Mulher, cedo meu espaço hoje para Tamires Sampaio


Ubuntu, sou o que sou pelo que somos. O indivíduo existe para e pelo coletivo, e essa é uma filosofia que traduz a forma como as mulheres negras atuam em nosso país desde sempre. O espírito de solidariedade passa pela forma como as mulheres negras se organizam nas periferias para cuidar uma das outras, as famílias que crescem em coletivo, o saber da importância do compartilhar. As mulheres negras abraçam o Brasil. São elas que em todos os momentos de nossa história lutaram, formularam e lideraram mudanças. Mas muitas vezes foram invisibilizadas e até apagadas da história.


O final de 2021 foi marcado por intensas chuvas, e o sul da Bahia foi atingido de forma brutal. Poucas semanas depois, vimos famílias sendo atingidas pelas enchentes em Minas Gerais, Maranhão, Goiás, Piauí, Tocantins, São Paulo e em Petrópolis (RJ).

Diante desse cenário, a Frente Nacional Antirracista (FNA), que reúne cerca de 600 entidades do movimento negro e mais de 30 mil voluntários, organizou uma campanha de solidariedade a essas famílias. O combate ao genocídio da população negra tem como um dos seus principais pilares o combate ao racismo ambiental. O impacto das mudanças climáticas atinge diretamente os povos indígenas e a população negra. Por isso a FNA se organizou para abraçar essas famílias.

Abrace a Bahia se tornou Abrace os Estados, e todo esse movimento foi formulado e dirigido pelas mulheres negras que estão na linha de frente da FNA. Tanto a nível nacional como nos estados, são elas que organizam a campanha, desde a divulgação nas redes sociais e na TV até os balcões de recepção e distribuição das doações.

Angela Davis nos ensinou que quando uma mulher negra se movimenta toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela. Isso significa dizer que, com as mulheres negras na linha de frente dos processos de transformação social, toda a sociedade se beneficia. Porque a construção de uma sociedade justa e igualitária passa pela transformação das estruturas sociais e pelo combate das opressões de gênero, raça e classe em conjunto.

Se um movimento de solidariedade como o Abrace os Estados, liderado por mulheres negras, se mostrou tão potente, imagine o que a presença de mulheres negras na direção de outros espaços pode fazer?
Está na hora de o Brasil também abraçar as mulheres negras, de nossas formulações serem estudadas, de nossas lideranças serem reconhecidas, de nossa produção ser valorizadas. A construção de uma sociedade antirracista passa pela direção de mulheres negras.

Tamires Sampaio é advogada, feminista negra, coordenadora da Frente Nacional Antirracista (FNA).

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