Preto Zezé

Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.

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Preto Zezé

A favela no centro da economia

Na favela moram 15 milhões de trabalhadores que produzem R$ 137 bilhões por ano

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Quando sou chamado para algum evento, quase sempre o tom do debate pressupõe a favela com diagnóstico problemático: violenta, com crise social, racismo, entre outros exemplos viciados. Como a porta se abriu, entro e busco construir caminhos opostos à narrativa, para o devido distanciamento e para que a favela seja vista como solução.

A economia talvez seja o terreno mais hostil para posicioná-la no cenário do capitalismo dependente, erguido sob anos de escravidão e monopólio da riqueza. Um projeto de país que cria desigualdade e injustiça não condiz com a prometida divisão do bolo nem com o padrão de consumo insustentável.

Onde fica a favela nesse debate? Nas planilhas de responsabilidade social, quando falamos de empresas como público alvo, de eleitorado de cabresto e cargas tributárias sem retorno. Para os economistas, somos apenas consumidores e geradores de custos.

A base da nossa educação é religiosa. A riqueza e o dinheiro sempre foram demonizados, e para a maioria são sinônimos de meritocracia e sucesso.

Dialogando com a provocação do artigo "Quarto setor", de Celso Athayde, na revista Exame, inverto o olhar sobre o mesmo tema.

Na favela moram 15 milhões de trabalhadores sem acesso a políticas públicas mesmo pagando impostos e produzindo R$ 137 bilhões por ano. Está na hora de apresentar nossa conduta frente a essa realidade.
Esperar o bolo crescer para dividi-lo é uma possibilidade antiga; não cola mais. Poderíamos alimentar sete planetas com a comida que produzimos. O milionário que quer colonizar outro planeta poderia resolver o problema da fome com um percentual mínimo de sua fortuna.

Não dá para esconder que estamos por conta própria, e nosso discurso social enquanto movimento precisa evoluir para um lugar longe da misericórdia e da responsabilidade social.

Precisamos falar sobre poder e economia, que definem tudo. E, como somos a massa que produz, não podemos aceitar que nosso lugar seja sempre no cativeiro das desgraças e tragédias.

A Expo Favela trouxe números importantes: R$ 68 milhões em investimentos. Um evento que contou com grandes nomes dos negócios, desde a favela até o asfalto. Definindo um novo olhar sobre a favela, que precisa e vai ocupar cada vez mais espaço para colocar em prática essa nova perspectiva.

Aos políticos, em ano eleitoral, que se preparem para encontrar uma favela mais exigente, que ressurge no precário para viver em um país diferente e inclusivo. Concedendo segunda chance para o Brasil se constituir como nação e não nesse amontoado de mágoas, desigualdades e racismo por todos os lados.

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