Preto Zezé

Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.

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Preto Zezé

Vivências e reflexões sobre evangélicos e política

Evangélicos não podem mais ser confundidos com charlatões e políticos oportunistas

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Já fui evangélico e tenho dois irmãos que são. Parte expressiva dos moradores de favela está nas igrejas protestantes. Esse grupo é predominantemente preto e pardo, pobre, periférico e do sexo feminino. O maior desafio do campo progressista é aprender a escutar e a dialogar com esse grupo.

É preciso falar sobre dinheiro, principalmente para mulheres, muitas delas evangélicas preocupadas com a segurança social de filhos, de idosos. A grana que recebem circula nos bairros em que vivem. Elas vendem lanche, marmita, cosméticos, muitas vezes em paralelo com empregos. É preciso falar sobre apoiar esses negócios.

Parte do campo progressista crítica a ideia da inclusão pelo consumo, como se garantir renda e direitos fossem conquistas rivais. Carteira assinada, consumo e acesso a crédito são símbolos do capitalismo que parte do campo progressista quer destruir.

Favela de Paraisópolis, que fez 100 anos em 2021, com alta em comércio, mas urbanização ainda travada. Tatiane Bastos em frente ao mercado de seu pai - Eduardo Knapp - 14.set.2021/Folhapress

Quem não debater dinheiro e prosperidade num país de desempregados vai ficar falando sozinho. A eleição de 2018 foi vencida a partir da promessa de defesa da ordem pela repressão armada e de melhora da economia. É preciso falar sobre família, valores e costumes.

Em vez de discutir valores sociais, o campo progressista prioriza valores morais. Em um país em que as mulheres pobres seguram a onda de suas famílias, progressistas usam argumentos intelectualizados para justificar que a família pode ter qualquer formato.

Família é acolhimento, reconstrução, segurança, coletividade. Cabem discussões sobre seus formatos, mas não a imposição de certezas absolutas.

É preciso falar de segurança e direitos. A gramática de direitos humanos foi capturada pelo campo progressista e hoje é percebida pelo brasileiro pobre como representando a defesa do bandidos.
Moradores de bairros de classe média e alta não têm dimensão da violência cotidiana nas periferias. E defender a legalização das drogas não é uma ideia bacana para a mãe que tem seu filho ou filha no vício ou no tráfico. Para essa população, há outras prioridades.

As populações que vivem na guerra interna produzida por grupos criminosos rivais pedem que cessem os tiroteios. Essa violência fecha escola, para o comércio, trava a vida.

Em suas gestões, o campo progressista se ausenta em relação às políticas de segurança, o que reforça sentimentos favoráveis a ações autoritárias.

O aceno aos evangélicos pobres é fundamental. Eles não podem mais ser confundidos com líderes charlatões e políticos oportunistas, que tiram proveito da ausência de soluções para a segurança e da desesperança da gente mais simples.

E é um erro tentar falar com esse público como se fossem todos iguais.

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