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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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CBF imita o país e depende de uma completa mudança em suas práticas

Crédito: Nelson Almeida - 3.mar.2017/Folhapress The president of the Brazilian Football Confederation (CBF) Marco Polo Del Nero is seen before the announcement of the list of players for the upcoming qualifiers for the Russia World Cup 2018 against Uruguay and Paraguay, in Sao Paulo, Brazil on March 3, 2017. / AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA ORG
O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero

Há um cenário mais temerário do que o da eleição para a Presidência da República, em 2018. A sucessão da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Por mais que se imagine a suspensão definitiva de Marco Polo Del Nero das atividades ligadas ao futebol, ou por oito anos, como ocorreu com Michel Platini e Josep Blatter, Del Nero defende-se na Fifa.

Pesa contra o presidente afastado os depoimentos de dirigentes, entre eles José Maria Marin, ex-presidente da CBF, segundo os quais Del Nero recebeu propina. O contra-argumento é o de que não há documentos que comprovem os pagamentos irregulares.

A suspensão por período semelhante ao de Blatter e Platini é provável, mas ainda não é uma certeza. Daí o início das apostas em cenários e candidatos para a sucessão.

Se a punição definitiva vier de fato, daqui a dois meses, o coronel Antônio Carlos Nunes poderia se manter no cargo e provocar o adiamento das eleições, inicialmente previstas para 25 de abril. O estatuto da CBF permite agendar o pleito para qualquer data entre 25 de abril de 2018 e 10 de abril de 2019.

Veja que aqui não se fala sobre a questão ética, mas do que é juridicamente possível. Neste período, Marco Polo poderia seguir decidindo questões fundamentais, amparado pelo Coronel Nunes e pelo diretor-executivo, Rogério Caboclo.

Já se levantou a hipótese de Caboclo ser o candidato à sucessão de Del Nero, o que manteria as coisas como estão. É improvável. Sua rejeição é enorme. Na hipótese de Del Nero não ter sua punição ampliada, o próprio presidente estaria apto a concorrer à reeleição. Se absolvido, iria para os braços dos presidentes de federações.

Na hipótese de ser punido, nenhum candidato apoiado pela atual direção teria chance em nenhum pleito. Especialmente Caboclo, pela antipatia com os clubes.

Nas últimas semanas, cogitou-se a candidatura de Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo. Ele não cogita. Além disso, a única chance seria acontecer o que jamais houve, ou seja, a união dos presidentes dos maiores clubes do país, como nunca fizeram nem para tomar um café.

A única candidatura organizada é a do presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos. Mas só será candidato se Marco Polo Del Nero for de fato impugnado.

A eleição para a Presidência da República é menos misteriosa ao menos num aspecto: sabe-se que ela acontecerá no dia 7 de outubro. Na CBF, nem a data é definitiva.

O último presidente de clube eleito para a CBF foi Giulite Coutinho (1980-1986), morto em 2009, que tinha presidido o América-RJ. Nos últimos trinta anos, houve apenas quatro mandatários. Três chegaram depois de terem sido presidentes de federações do Rio, caso de Otávio Pinto Guimarães, e de São Paulo, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. O outro, Ricardo Teixeira, chegou credenciado por parentesco. Era genro de João Havelange.

Em qualquer cenário, a CBF imita o país. Exige completa mudança das práticas. Em vez da política de baixo calibre, as decisões técnicas. Em vez de favores, meritocracia. Em vez de oligarquias, união entre os raros bons dirigentes de clubes e federações com ex-atletas que se preparem.

O futebol brasileiro tem potencial demais para continuar deitado em berço esplêndido.

Erramos: o texto foi alterado
A eleição para a Presidência da República será no dia 7 de outubro, não 3 de outubro.
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