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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu campeonato brasileiro Futebol

Brasileiro ainda não se compara à elite de campeonatos de clubes no mundo

Na disputa com os principais torneios da Europa, Brasileiro perde em média de gols e de público

 

A média de gols do Campeonato Brasileiro melhorou todos os anos desde 2014. Do baixo índice de 2,26 gols por partida, saltou para 2,43, crescimento de 10%. Ao mesmo tempo, os alemães viram o número cair 5% nas últimas quatro edições do seu campeonato nacional.

É provável que o aumento do número de gols seja resultado, em parte, do plano de licenciamento da CBF, que ajudou a melhorar gramados da Série A. O Barradão é um exemplo. Mas, enquanto os alemães tiveram média de 2,58 gols na temporada passada, o Brasil continua 5% abaixo, mesmo crescendo ano após ano, desde 2014.

Difundir é um verbo que não se conjuga no futebol brasileiro. É como se o fato de se jogar em todos os cantos, das praias às florestas, tornasse desnecessário olhar para cada detalhe do campeonato, assim como é indispensável regar uma planta a cada dia.

Atacante brasileiro Jonas comemora gol do Benfica contra o Vitória de Guimarães; com estatísticas comparáveis às do Brasileiro, campeonato português vive predomínio da equipe de Lisboa
Atacante brasileiro Jonas comemora gol do Benfica contra o Vitória de Guimarães; com estatísticas comparáveis às do Brasileiro, campeonato português vive predomínio da equipe de Lisboa - Francisco Leong - 31.mar.2018/AFP

O Brasileiro começou no sábado (14) e conhecerá seu campeão no dia 9 de dezembro com os mesmos 15 mil torcedores por jogo das últimas duas edições —em 2015, foram 17 mil por partida, em 2009, 19 mil.

Na disputa com os principais torneios da Europa, o Brasileiro perde em média de gols e de público. Ganha na comparação com Portugal e Argentina, o que reforça a ideia de que não há comparação com a elite dos campeonatos de clubes do mundo, mas sim com o bloco intermediário —incluindo parte da Europa, como Portugal, Holanda, Bélgica e Rússia.

Na França e na Itália, a média de gols está na faixa dos 2,65 por jogo e de público no mínimo de 21 mil.

É possível alcançar esse patamar, se quem organiza o Campeonato Brasileiro, seja a CBF, como hoje em dia, ou uma liga, se um dia os clubes tomarem coragem, pensar em evoluções gradativas, um ano sempre melhor do que o outro.

Entre os seis principais campeonatos nacionais da Europa, quatro vivem outro tipo de crise: a do desequilíbrio. O Bayern ganhou o hexacampeonato alemão, a Juventus tem tudo para ser hepta na Itália, o Benfica está perto de ser pentacampeão português, o Paris Saint-Germain vencerá seu quinto campeonato dos últimos seis disputados na França.

Aqui, há o benefício da imprevisibilidade. Corinthians, Palmeiras, Flamengo, Cruzeiro e Grêmio poderão ser campeões brasileiros sem ninguém tomar um susto. Pela fase atual, não são favoritos nem Santos, nem São Paulo, nem Atlético-MG, mas nenhum deles é o Leicester. Botafogo, Fluminense e Internacional são gigantes, mas azarões. O grande patrimônio do Brasileiro continua sendo o equilíbrio. Mas não trabalhar para que isto se transforme em mais gols, melhor nível técnico, mais interesse de público e de patrocinadores, mais visibilidade no exterior... Não fazer nada com esse patrimônio é como viver sozinho numa mansão.

O Brasileiro de 2018 terá dificuldades extras. Até a Copa do Mundo, os maiores clubes jogarão duas vezes por nove semanas seguidas. A 12ª rodada terminará um dia antes do pontapé inicial em Moscou. O retorno será três dias depois da final da Copa e as cinco rodadas seguintes ocorrerão às quartas e domingos.

Sem tempo para treino, a chance de existir a percepção de que o nível técnico, o índice de gols e o interesse de público aumentaram é mínima.

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