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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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O Brasil sem o Maracanã

Copa América de 2019, aqui no país, poderá não ter o famoso estádio

O Comitê Organizador da Copa América de 2019 está assustado com o custo para abrir o Maracanã e propenso a excluir o maior estádio do país do torneio que acontecerá no Brasil, entre 14 de junho e 7 de julho do ano que vem.

É mais um capítulo de uma história de fracasso da concessão do velho Mario Filho à Odebrecht, que venceu a licitação em 2011. Neste ano, houve oito partidas. Por dois meses, entre 27 de janeiro e 25 de março, não houve nenhum jogo de futebol. No lugar, festas e shows musicais.

Vista aérea do Maracanã
Vista aérea do Maracanã - Delmiro Junior/Photo Premium

Ao todo, 205 mil torcedores pagaram ingresso neste ano, apenas cinco mil a mais do que a velha capacidade total, nos tempos em que era o maior estádio do mundo. Parece pouco, mas em média são 26 mil torcedores. Só Palmeiras e Corinthians levaram mais gente a seus jogos.

Por dois meses, falou-se sobre o escândalo da ausência de torcida no Estadual do Rio. O Maracanã voltou e os dois maiores públicos do Brasil neste ano aconteceram no Rio de Janeiro: Vasco 0 x 1 Botafogo, Flamengo 2 x 0 América-MG.

O Maracanã faz falta. O comitê da Copa América sabe disso, mas julga um abuso ter de pagar R$ 1 milhão como cota mínima, só para abrir o palco.

A renda do jogo do Flamengo contra o América, no sábado (21), foi de R$ 1,6 milhão e a receita líquida de R$ 406 mil. O Fluminense tinha a garantia, por contrato com a Odebrecht, de não ter despesas, exceto taxas de federação e arbitragem.

Como o consórcio que ganhou a licitação abandonou o estádio, o Fluminense assumiu o controle da operação a cada partida. Tem prejuízo em todas. No domingo (22), o déficit foi de R$ 221 mil.

O governador Pezão não resolverá o problema em seu mandato. Poderia ser conhecido pelo aumentativo de outra parte do corpo. A empreiteira que comanda o consórcio que administra o estádio está até o pescoço na Lava Jato, é sabido que venceu a licitação tendo relações estranhas com o ex-governador Sérgio Cabral, que está preso, demitiu 90% dos funcionários que trabalhavam no local e, mesmo assim, não há uma fiscalização sobre o que se cumpre e o que não funciona no estádio.

O próximo governo estadual terá o desafio de mexer na relação com a Odebrecht. A empreiteira quer sair da relação, mas está respaldada juridicamente e exigirá ser ressarcida. Quer o pagamento de multa pelo contrato assinado com o Fluminense por 35 anos de uso do estádio.

Enquanto isso, a Odebrecht deixa o Maracanã ao acaso.

O problema dos estádios públicos é internacional. O Stade de France, em Paris, foi construído pela Lagardère, a mesma empresa que o administra por concessão. Situação semelhante à do Maracanã, a ponto de a seleção francesa de rúgbi já ter cogitado deixar de jogar lá. 

Nesta semana, a situação chegou a Wembley. A Federação Inglesa assume prejuízo de 113 milhões de libras e pretende vender o templo para o dono do Fulham, o empresário americano Shahid Khan. 

O problema não é a concessão do Maracanã à iniciativa privada. É melhor ter uma empresa que o explore e tenha lucro, do que o Estado retomar o controle e o contribuinte pagar a conta. Mas é preciso cobrar a contrapartida e criar mecanismos para usar o estádio para o que foi construído.

Hoje, a Odebrecht finge cumprir o que está na licitação e o governo se esforça para fingir que não tem um problema.

O Maracanã nasceu para ser do futebol e qualquer novo processo de licitação deve preservar este objetivo.

A Copa América será disputada em sete cidades, terá oito estádios e tem grande chance de não ter o Maraca.

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