O Corinthians já tinha passado quatro jogos sem vencer, sob o comando de Fábio Carille. Aconteceu em março e em outubro de 2017. Da primeira vez, o olhar era de desconfiança. Igualar-se à Luverdense, perder da Ferroviária, reforçava a tese da quarta força.
Em outubro, a derrota para a Ponte Preta manteve a distância de cinco pontos para o vice-líder, Palmeiras, mas criou a perspectiva de o rival assumir a liderança se vencesse o Cruzeiro e o dérbi. O Corinthians venceu o clássico por 3 a 2 e seguiu para o título.
A lembrança de que já houve situações semelhantes serve para manter os pés no chão. Há duas semanas, havia quem perguntasse se a goleada por 4 a 0 sobre o Paraná indicava que o Corinthians poderia disparar como em 2017. Duas derrotas e dois empates depois, a situação mudou.
O Ceará viajou a São Paulo relembrando que não passava as três primeiras rodadas de um Brasileiro sem fazer gols desde 1971. Daquela vez, quebrou a sequência vencendo o Fluminense, último campeão nacional, no Robertão de 1970.
Desta vez, o jejum de gols se rompeu com golaço de Wescley, chute de fora da área contra o detentor do troféu do Brasileirão. Daquela vez, venceu por 1 a 0. Desta, só empatou, porque o Corinthians reagiu, com gol de Henrique, cobrança de escanteio de Jadson.
Estão claras as razões da queda corintiana. O acúmulo de jogos aumenta o risco de lesões e diminui a chance de escalar o time base. Ano passado, a formação clássica tornou-se a mais escalada da história corintiana: Cássio, Fágner, Balbuena, Pablo e Arana; Gabriel e Maycon; Jádson, Rodriguinho e Romero; Jô.
Os onze jogaram juntos treze vezes. Recorde.
Desta vez, o time muda a cada partida. Agora é diferente. O Corinthians não repete uma mesma formação por duas partidas consecutivas desde o dia 4 de março.
Quando repetiu, não venceu. Empatou com o Millonarios, em Bogotá, e o Santos, no Pacaembu. Há contradições mesmo. Apesar de se perceber o acúmulo de competições como agente inibidor da repetição do sucesso do ano passado, o Corinthians jogou só duas partidas a menos do que no mesmo período de 2017.
Não é só o acúmulo de partidas. Não é apenas a falta do centroavante.
No Brasileiro 2017, o Corinthians tinha Jô no segundo turno e venceu sete, de dezenove jogos. A observação se repete aqui, porque se repete a pergunta sobre a ausência de homem de área e, com ele, começou a irregularidade corintiana ainda em 2017.
O problema atual tem muito a ver com lesões. Carille não pode escalar Fagner, Ralf, Renê Júnior e Clayson, machucados. São quatro opções a menos, o que não é pouco. Outra questão é que nenhum time brasileiro tem a regularidade dos europeus, porque não tem a mesma estabilidade de trabalho e nem sombra da qualidade de elencos.
Discutimos se o melhor jogador do Brasil hoje é Luan ou Rodriguinho. Nenhum deles tem proposta da Europa. Luan teve há um ano, mas abaixo do que o Grêmio desejava.
O Corinthians sem vencer por quatro jogos indica que o Brasileiro tem o que os outros torneios da Europa não têm: equilíbrio. O Corinthians é democrático. Não anuncia hegemonia como a do Bayern e da Juventus. Não há nenhum time brasileiro nesse patamar.
Esverdeando
Domingo tem Corinthians e Palmeiras em Itaquera. As últimas duas semanas que transformaram o favoritismo do Corinthians em preocupação também fizeram o Palmeiras sair da depressão para a euforia. Roger mexeu bem em Borja e Lucas Lima: 3 a 1 em Curitiba não é fácil.
Obrigado, Juca
O amigo Juca Kfouri, com sua incrível generosidade, tratou neste sábado (5) aqui do livro "Escola Brasileira de Futebol". Obrigado, Juca! O texto não é para ser unânime, mas para abrir o debate. O Brasil pode discutir mais o jogo do que discute hoje em dia.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.