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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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É um acerto Tite seguir, mas com mudanças e correções

A seleção brasileira precisa ser cada vez mais profissional

As mudanças na seleção começam timidamente a aparecer. Não haverá caça às bruxas e a decisão mais acertada foi tomada: Tite permanece. Mas a CBF pensa em correções. Tite certamente está pensando nos seus erros. No prédio da Barra da Tijuca, está claro que a comissão técnica não será tão grande quanto na Rússia.

Havia 74 pessoas, incluindo seguranças. As desconfianças mais fortes recaem sobre a preparação física. Aos poucos, saem o preparador Ricardo Rosa e o fisiologista Bruno Maziotti. Há quem conteste Fábio Mahseredjian.

Sem ser campeão, a grande contribuição de Tite foi criar um sistema de trabalho, com expediente todos os dias e conversas frequentes com os jogadores e corpos técnicos dos clubes europeus. Dunga fazia parecido, mas o diálogo depois da chegada de Tite ficou muito mais estreito. Isso não vai mudar. “Não haverá paletó na cadeira.” É o mantra da direção da CBF. Ou seja, vai continuar o trabalho como Tite montou. A diminuição da comissão técnica não pode servir de desculpa para que existam menos conversas nem menos partidas assistidas no exterior.

A cada quatro anos, a nossa avaliação da derrota aponta erros, que muitas vezes são contrapontos de equívocos anteriores. Em 2006, a bagunça de Weggis fez perder a Copa. Em 2010, a seleção ficou reclusa demais em Johannesburgo. Em 2014, a culpa foi da falta de treino, criticada em todos os Mundiais, pelo menos desde 1994. Em 2018, o excesso causou as lesões de Douglas Costa e Fred. Há quatro anos, a liberdade dos jogadores da Alemanha passearem por Cabrália explicava a alegria e o bom futebol. Em 2018, a convivência com as famílias fez mal à seleção brasileira.

Menos. O Brasil perdeu porque a Bélgica foi melhor. Também porque Tite chegou como bombeiro, em vez de fazer um ciclo de quatro anos, como Deschamps e Löw, os dois últimos vencedores. Verdade que o Brasil também perdeu Copas depois de manter um técnico por quatro temporadas. Aconteceu em 1974 e 1998, com Zagallo, em 2006, com Parreira, e em 2010, com Dunga. É como estudar para a prova: não garante nota 10. Mas é o caminho correto para passar de ano.

É justo cortar despesas, fiscalizar de perto o trabalho de Edu Gaspar e Tite, definir os modelos de concentrações em conjunto. Fundamental é aperfeiçoar o trabalho. As presenças de Bélgica e Croácia nas semifinais da Copa não indicam que o Mundial foi fraco. Ao contrário, evidenciam que há cada vez mais concorrentes. Por isso, a seleção precisa ser cada vez mais profissional.

Como construir uma liga

O velho Campeonato Inglês despediu-se na temporada 1991/92, com média de 21 mil espectadores por jogo. Na primeira rodada da nova Premier League, em 15 de agosto de 1992, o Manchester United visitou o Sheffield United diante de 28 mil torcedores. Foi o maior público da rodada. Há 30 anos, a Inglaterra tinha média de 18 mil espectadores por jogo —hoje o Brasileiro tem 17.500.

Havia 13 atletas estrangeiros na primeira edição da Premier League, dos quais 3 haviam disputado a Copa de 1990.

No inverno, os gramados eram pastos, e isso reforçava a tática do kick and rush —chutão e correria. Muita gente diz que os estrangeiros mudaram o futebol inglês e há até livro sobre isso, “The Foreign Revolution” (Nick Harris, 2006).

A qualidade da grama revolucionou mais. Mas a transformação do Campeonato Inglês, de medíocre a exuberante, veio do pensamento global. O torneio é o produto. Se ele vai bem, todos os clubes vão bem.

Começou na sexta (10) o mais badalado torneio nacional de clubes do planeta. O dinheiro dos picaretas internacionais ajuda muito. Mas a chave da mudança foi querer fazer. A indústria do futebol continua aguardando um grande Campeonato Brasileiro.

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