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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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O Brasil não pode ser o país do futebol da bola parada e do contra-ataque

É momento de discutir como jogamos, de preferência com profissionais do mundo todo

Homens com camiseta azul levantam os braços para cima, comemorando
Jogadores do Cruzeiro comemoram o título da Copa do Brasil, após vencer o Corinthians - Leonardo Benassatto/Reuters

A Copa do Brasil terminou com o registro da pior média de gols desde 1990. O índice do Brasileiro é idêntico. O menor número de bolas na rede desde que o Corinthians foi campeão com gol de Tupãzinho, 28 anos atrás. Naquela época, havia 1,92 gol/jogo. Hoje, 2,21.

A crise mundial do fim da década de 1980, com ápice na Copa do Mundo da Itália, a de menor média de todos os tempos, produziu mudanças importantes, na regra e na pontuação. A partir de 1992, os goleiros foram proibidos de apanhar com as mãos as bolas recuadas por seu time e, em 1994, as vitórias passaram a valer três pontos, em vez de dois.

O índice de gols não é sinal exclusivo para entender se o futebol vai bem ou mal. Em 1971, o Brasileiro tinha os 22 campeões do mundo no México.

O êxodo não era um problema. Pelé, Rivellino, Tostão, Gérson, Clodoaldo, Jairzinho, Zico e Roberto Dinamite jogaram e houve menos bola na rede do que em 1990, e só vence em média a temporada de 1988.

Isso não quer dizer que não exista motivo para ligar o sinal vermelho. Há. É momento de discutir exaustivamente o futebol que jogamos, de preferência em encontros com profissionais do mundo todo.

A América do Sul, não só o Brasil, virou o continente do futebol feio. Não são só o Brasileiro e a Copa do Brasil que diminuem gols. Libertadores também e até a Copa do Mundo, comparada com 2014. Mas a Champions League sobe.

Há uma semana, o jornal italiano La Gazzetta dello Sport concluiu ciclo de palestras em Trento, com a reunião de três campeões da Champions: Carlo Ancelotti, Josep Guardiola e Arrigo Sacchi. Ancelotti disse que a crise da Itália é passageira, Guardiola afirmou que trabalhar com Cruyff era como ir à escola, Sacchi discursou sobre a mudança do jogo e dos dominadores na Europa nos últimos 50 anos, todos goleadores: Ajax, Milan e Barcelona.

Ano passado, a CBF trouxe Fabio Capello e Marcelo Bielsa. Esforço válido, ainda que nos falte ter aqui Guardiola. Por que já fez palestra em Buenos Aires, mas nunca no Brasil?

Trazê-lo cabe à CBF ou a qualquer instituição que deseje debater o futebol em alto nível. As explicações simplistas não nos servem mais. Como repetir que a culpa é do baixo nível dos técnicos brasileiros.

Mano Menezes dá aula de montagem de sistemas defensivos. Algumas de suas frases ensinam, como as ditas um minuto antes do pontapé inicial, em Itaquera.

 

Questionado sobre qual novidade teria no jogo contra o Corinthians, respondeu: "Nenhuma. Um time que quer ser campeão se forma durante a competição e chega à decisão mostrando o que tem de melhor." Se o Corinthians seria mais ofensivo? "Eles terão jogadores mais ofensivos, mas se conseguirão atacar vai depender do que o Cruzeiro fará."

O Corinthians só chutou uma vez ao gol de Fábio. Porque o Cruzeiro trabalha para marcar.

E por que os times brasileiros não atacam? Ora, simples, porque os técnicos brasileiros blá-blá-blá... Mas o treinador do São Paulo é uruguaio, foi redescoberto no Brasil quando levou o Peñarol à final da Libertadores de 2011, e a crítica ao campeão do primeiro turno é não conseguir construir o jogo. E ao Corinthians também. Até mesmo ao Cruzeiro.

Lembre-se da declaração de Reinaldo Rueda, ao descobrir que Guillermo Schelotto tem quatro meses a mais de trabalho no Boca Juniors do que Mano no Cruzeiro. E que, mesmo assim, orientou 58 partidas a menos do que ele nos últimos dois anos. Disse Rueda: "Muitos jogos e viagens impedem bom nível. É quase impossível realizar treinos com alta intensidade. Dá apenas para fazer recuperação." O Brasil não pode ser o país do futebol da bola parada e do contra-ataque.

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