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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Palmeiras e Grêmio são antagonistas em filosofias de futebol

Times duelam pelo título brasileiro e também disputam semifinais da Libertadores

Palmeiras e Grêmio duelam pelas primeiras colocações do Brasileiro neste domingo (14) e representam o Brasil nas semifinais da Libertadores. São antagonistas em duas filosofias diferentes de fazer futebol.
Há cinco anos, quando ainda tinham Fábio Koff como presidente, os gremistas definiram as revelações de jovens jogadores como base para seu reerguimento.

Depois de 15 anos sem troféus nacionais nem internacionais, o Grêmio foi campeão da Copa do Brasil e da Libertadores com cinco pratas-da-casa titulares em cada disputa. Marcelo Grohe, Jaílson, Walace, Arthur, Luan, Pedro Rocha, Éverton e Ramiro, que terminou sua formação nos juniores do estádio Olímpico, fazem parte dessa história.

O Palmeiras encarna outra estratégia. Alexandre Mattos costuma dizer que agora o Palmeiras começa a beber água limpa e em breve terá fornadas de craques nascidos nas divisões de base. No último Mundial sub-17, o zagueiro Vitão, o meia Alanzinho e o lateral Luan Cândido estavam presentes.

Willian, do Palmeiras, e Maicon, do Grêmio, disputam a bola em jogo pelo Brasileiro
Willian, do Palmeiras, e Maicon, do Grêmio, disputam a bola em jogo pelo Brasileiro - Divulgação - 7.jun.18/Palmeiras

Mas na soma dos times B, líder do Brasileiro, e C, da Copa Libertadores, só Victor Luís foi criado no alicerce palmeirense. Não dá para acusar a atual diretoria de sucatear a formação de jogadores, porque a história do Palmeiras não é de grandes times criados em casa.

A Academia de 1965 não tinha nenhum titular nascido no Parque Antarctica. Na segunda, de 1972/73, só Alfredo Mostarda. No timaço de Luxemburgo bicampeão brasileiro de 1993/1994, os goleiros Sérgio e Velloso e o volante Amaral chegaram a titulares. Na Libertadores de 1999, só Marcos.

Investir na base evita ser refém dos empresários que colocam no mercado uma legião de atletas medianos. Apesar da pouca tradição de formar esquadrões descobrindo jovens talentos, os dois maiores ídolos do Palmeiras neste século são Marcos e Gabriel Jesus. Ambos calçaram chuteiras verdes desde a infância.

A Crefisa não vai durar para sempre, como não durou a Parmalat, e fundamental é estabelecer o modo de agir do clube. Bem ou mal, o Corinthians conseguiu isso nos últimos dez anos. O Grêmio estabeleceu nos últimos cinco. Investe perto de R$ 20 milhões por ano no departamento amador.

Dos oito jogadores listados campeões como titulares nos últimos três anos, quatro foram vendidos e renderam 66 milhões de euros —R$ 288 milhões. “Todos saíram depois de serem campeões aqui”, diz o presidente Romildo Bolzan. Refere-se a Arthur, Pedro Rocha, Jaílson e Walace. “Luan não foi para o Spartak, porque não quis”, diz Bolzan.

O Palmeiras evitou a venda de Dudu ao futebol chinês no meio do ano e agora tem no camisa 7 a maior esperança para ganhar Brasileiro e Libertadores. Palmeiras e Grêmio hoje fazem parte de uma rara elite de clubes brasileiros que podem declinar de algumas propostas da Europa.

Diferente do Flamengo, que negociou Vinicius Júnior e Lucas Paquetá, arrecadou 80 milhões de euros (R$ 350 milhões), mas não ganhou nenhum troféu nacional ou continental com eles. O Fla também já pode recusar, mas perde para a lógica do nosso futebol colônia. O agente quer vender, o jogador quer ir e o clube acha que não há outra saída.

A única forma de mudar isso é melhorar o nível do Brasileiro e torná-lo relevante para ser visto na Ásia, América do Norte e Europa. Todos os agentes de jogadores que vivem na Europa assistem ao Brasileiro, mais e melhor do que nós mesmos.

Descobrem os craques que o Grêmio forma e também os que o Palmeiras quer contratar. A maior vantagem de formar em vez de buscar é desfrutar do craque antes que a Europa o descubra e leve aquilo que nem os reais da Crefisa conseguem comprar.

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