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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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A maior guerra da história do futebol sul-americano acaba neste domingo (9), com a decisão da Libertadores entre River Plate e Boca Juniors, disputada no estádio que tem o nome do causador da maior guerra do futebol espanhol.

Santiago Bernabéu era o presidente do Real Madrid que contratou Alfredo Di Stéfano, do Millonarios da Colômbia, em 1953.

A compra virou estopim de uma briga com o Barcelona lembrada até hoje.

O grande craque argentino, antes de Maradona e Messi, jogava pelo River quando explodiu a greve dos futebolistas de 1948.

Oportunista e sem vínculo com a Fifa, a Liga Colombiana decidiu contratar os grevistas sem pagar pelo passe e desembolsando fortunas de salários.

Em vez de remunerar o River Plate, o dinheiro ia diretamente para o bolso dos craques. Um dos mercenários contratados foi Di Stéfano.

A Fifa deu solução salomônica no Congresso de Lima, em 1951, e declarou que a Colômbia poderia manter sua liga pirata até 1953.

Então, tudo voltaria às regras da federação internacional.

Santiago Bernabéu conheceu e encantou-se pelo futebol de Di Stéfano durante a disputa da Pequena Taça do Mundo, na Venezuela, em 1952. Contratou-o do Millonarios.

Só que o Barcelona comprou o craque diretamente do River Plate, que detinha seu passe, pelas regras da Fifa. Virou guerra.

A Federação Espanhola entrou na disputa e determinou que Di Stéfano jogasse quatro temporadas intercaladas entre Real Madrid e Barcelona, de 1953 a 1957.

A primeira no Real, a segunda no Barça e assim sucessivamente.

Conta-se que a influência do ditador Francisco Franco determinou a desistência do Barcelona e a vitória do Real no caso.

O livro “Nacidos para Encordiarse”, do jornalista Alfredo Relaño, madrileno e madridista, desmente a tese.
Em 2017, nos arquivos do Monumental de Nuñez, foi encontrado o documento de venda do River para o Barcelona por 2 milhões de pesos.

O River Plate treinou para a finalíssima contra o Boca no Centro de Treinamento de Valdebebas, do Real Madrid, onde foram construídos uma estátua em homenagem a Di Stéfano e um pequeno estádio que leva seu nome.

Di Stéfano voltou ao River em 1981, como técnico.

Diante dos olhos do gênio dos anos 1940 e 1950, o River Plate preparou-se para jogar contra o Boca Juniors, diante do olhar atento de Lionel Messi, que confirmou presença no Bernabéu.

Nos últimos dez anos, Messi só visitou arquibancadas para assistir às partidas de Barcelona e seleção argentina, quando não podia estar em campo.

“Ele diz que é Newell’s, mas quando criança era River”, diz seu ex-colega de divisões de base do Newell’s Old Boys Gerardo Grighini. O trecho está na biografia de Messi, assinada pelo jornalista espanhol Guillém Ballagué.

Não há notícia de que Maradona estará no Bernabéu. Se estiver, será para torcer pelo Boca. Haverá um Messi x Maradona nas tribunas.

Incrível que o superclássico argentino sobreviva. Duas semanas após o fiasco de organização e escândalo de violência que determinou o cancelamento da finalíssima e posterior agendamento para a terra dos colonizadores da América, o estádio Santiago Bernabéu pode receber 70 mil torcedores e produzir uma partida histórica.

Nada do que está acontecendo poderia acontecer e só uma coisa pode se sobrepor à vergonha da Libertadores: o jogo.

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