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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Técnico revelação estuda futebol e cita literatura especializada

Tiago Nunes, do Athletico-PR, nunca foi jogador profissional, mas tem cultura teórica

Homem de camisa vinho une as mãos perto do rosto e fala com outro homem de vinho que está de costas
Tiago Nunes, técnico do Athletico-PR, fala com jogador durante a final da Copa Sul-Americana - Nelson Almeida/AFP

​Técnico campeão da Copa Sul-Americana e revelação do Brasil em 2018, Tiago Nunes estuda futebol e cita literatura especializada em conversas e palestras.

De livros recentes, tem admiração pela segunda parte do trabalho de Guardiola, do Bayern ao Manchester City. "A Evolução", escrito pelo jornalista Martí Perarnau, não foi lido pelo treinador catalão, sob o argumento de que preferiu dar liberdade ao escritor. Em contrapartida, Tiago Nunes devorou suas 440 páginas.

Sua obra preferida é "A Pirâmide Invertida", do jornalista inglês Jonathan Wilson. "Esse é o que mais gosto. O dilema de que tratamos hoje, entre a posse de bola e as equipes reativas, é o mesmo descrito no livro entre os ingleses e escoceses no século 19", diz Nunes.

Ter conteúdo teórico não vai, necessariamente, ampliar o repertório de um treinador. Mas num país em que o grande déficit é educação e cultura, e num ambiente de futebol onde sempre prevaleceu o conhecimento empírico, parece extremamente saudável poder dialogar com um treinador sobre teoria e prática.

Tiago Nunes nunca foi jogador profissional. Preparador físico por formação, já passou treze de seus 38 anos dirigindo equipes como técnico.

Arrigo Sacchi, bicampeão da Champions League pelo Milan, em 1989 e 1990, sempre disse que não é preciso ter sido cavalo para ser jóquei. Não é preciso ter jogado profissionalmente para ser treinador, embora a experiência do campo possa ajudar bastante.

O conteúdo teórico de Nunes aparece na maneira como sua equipe se adapta às circunstâncias, ora asfixiando o adversário com a bola no pé, ora contra-atacando. Guardiola fala em "A Evolução", sobre a necessidade de adaptação a seu elenco e seus adversários.

Contra o Fluminense, no Maracanã, o Athletico-PR venceu com 35% de posse. Contra o Flamengo, três dias depois, ganhou de virada com 51%. Verdade também que o Athletico-PR jogou pessimamente as finais contra o Junior Barranquilla. Merecia perder.

O diferencial de Tiago Nunes é a cultura teórica. Sua grande qualidade, não. "O mais importante é a gestão do grupo", afirma. Nesse ponto, é um pouco Felipão. 

Há histórias que contadas a um engenheiro ou advogado podem produzir gargalhadas, mas que num vestiário de futebol muitas vezes dão efeito positivo.

Na véspera da final da Copa Sul-Americana, Raphael Veiga cobrava pênaltis sem nenhuma eficiência.

Todos sabiam que seria um dos cobradores se houvesse empate contra o Junior, como terminou acontecendo. Nunes reuniu o grupo de jogadores no gramado e disse: "O Veiga está cobrando muito mal. Amanhã, ele vai bater. Se for para sermos campeões, seremos. Senão, vamos todos nos abraçar para chorarmos juntos."

O relato foi do centroavante Bergson, depois do troféu assegurado com cobrança precisa de Raphael Veiga. Provavelmente, este depoimento seria diferente se a cobrança fosse na arquibancada.

A impressão final é a de que o Athletico mereceu o título apenas pelo que representa como clube, não pela qualidade da equipe. Mesmo assim, Tiago Nunes é uma demonstração de que é possível ampliar o repertório teórico e utilizá-lo, sem perder de vista que o que nos difere a todos é a capacidade de ter boas relações humanas.

Cadência: Athletico tem passe como premissa

Campinho

Aceleração: contra-ataque mortal quando preciso

Campinho

Flamengo x Palmeiras

O Palmeiras se esforçará e não liberará Felipe Melo ao Flamengo. Não se trata apenas da qualidade do jogador, mas também de não reforçar um rival, contra o qual brigará por taças. Na Gávea, a ideia é ter um time com mais sangue. Pode ser uma armadilha. Pode ter faltado mais do que isso à equipe.

Todo Poderoso

Sornoza não foi bem no Fluminense de 2018, mas é esperança para o Corinthians de 2019. Talento, ele tem de sobra. Se fechar negócio, o que parece provável, desfalcará o Flu mais do que reforçará a equipe de Carille. Mas há quem jure no Parque São Jorge que a estrutura corintiana ajudará a recuperar o meia.

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