A média de torcedores por clássico, no Campeonato Paulista, é de 37 mil. Mais do que no Brasileiro, quando os 12 jogos entre os quatro grandes clubes do estado levaram 36 mil por partida. No Estadual, os quatro gigantes acreditavam em ganhar o título e, no Brasileiro, as chances foram diminuindo no segundo turno.
Mas se o público dos clássicos do Estadual foi maior, é porque o troféu ainda é cobiçado.
O último Paulista com os quatro grandes nas semifinais, antes da torcida única, havia acontecido em 2011. Daquela vez, a média dos clássicos foi de 23 mil espectadores por partida. O aumento é de 60%.
Sou contra a torcida única. Mas é preciso entender cada fenômeno. O crescimento de torcedores no estádio não é só pela segurança. É também pelo conforto, por cada clube jogar em seu estádio, porque o Morumbi melhorou muito nos últimos dez anos, o Allianz Parque é primeiro mundo, Itaquera é um espetáculo.
Quem organiza um campeonato precisa olhar para ele como um jardineiro olha para seu jardim. É necessário analisar e regar corretamente. Nem água demais nem de menos. A partir de amanhã, será necessário tentar entender por que 45% dos clássicos terminaram 0 a 0 e por que os finalistas têm menos de um gol por partida. O São Paulo fez 16 em 17 rodadas, o Corinthians marcou 14.
É estarrecedor. De 11 clássicos, 5 terminaram 0 a 0. No entanto, o público nos clássicos cresceu. O torcedor vai ao estádio ou se põe diante da TV para ver seu clube. Parece mais interessado na vitória do que no espetáculo.
Quem organiza não pode se contentar com isso. A médio prazo, o garoto de 15 anos pode passar a se interessar mais pela NBA ou pela Champions do que pelo que assiste no Brasil. Já está acontecendo. Por isso, é necessário regar a plantinha. Fazê-la crescer mais bonita do que está neste outono.
Na finalíssima, o Corinthians é favorito. Joga em Itaquera, onde o São Paulo jamais venceu. Precisa de formação mais ofensiva do que a que defendeu o empate no Morumbi. Em todos os clássicos disputados neste ano, registrou menos de 50% de posse de bola. Difícil apostar na vitória em casa se jogar com a mesma estratégia.
O São Paulo não é franco-atirador. Mas chega com o terceiro técnico e a quarta formação diferente, no quarto mês do ano. Jogou com Jucilei de volante, com três zagueiros, encontrou-se com os menudos e agora perde Pablo e Liziero. Se a partida se aproximar do fim empatada... Por que não? Se o tricolor jamais venceu em Itaquera, empatar pode ser bom. Ganhar nos pênaltis, melhor.
É uma das coisas para se pensar para 2020. Será que o excesso de 0 a 0, especialmente nos clássicos (45%), não é turbinado pelo regulamento? O prêmio a quem não tenta vencer é tentar o título nos pênaltis.
Como o regulamento é esse, qualquer campeão será justo.
Injusto é continuar lamentando o futebol jogado aqui, por causa do excesso de trocas de treinadores e do absurdo das mudanças de elencos três vezes por ano. O medo está ganhando. Por isso, é possível imaginar um clássico em que os dois procurem vencer até os 15 do segundo tempo e, se não der, amarrem a decisão até que cheguem os pênaltis.
Antigamente, as disputas da marca de 11 metros eram fábricas de vilões. Hoje, os clubes brasileiros preferem ter um vilão a 12 condenados. Porque os 11 titulares e o treinador serão certamente entregues à nossa volúpia, sempre à procura do culpado pela derrota.
Hoje é dia de campeão. Dia de celebrar os responsáveis pelas vitórias, mais do que tratar dos erros dos derrotados. Amanhã é dia de refletir sobre os erros que se repetem e nos fazem criticar o futebol jogado aqui há mais de 20 anos.
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