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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Muito mais legal será quando São Paulo puder manter David Neres

Brasileiros devem aprender lição com Ajax, de que é possível segurar os craques

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O Ajax contratou David Neres, em 2017, depois do São Paulo contar com sua revelação por apenas oito partidas, com três gols. Em três temporadas em Amsterdã, Neres já marcou oito vezes mais gols. O Ajax recebeu proposta de 30 milhões de euros da Roma, em agosto do ano passado. Respondeu com um NÃO rotundo. Pretendia manter David Neres para fazer grande campanha na Champions League. Nove meses depois, o Ajax está a um empate da final.

Já se fala em Antony, outra revelação são-paulina, como substituto de Neres em Amsterdã no ano que vem, se desta vez o Ajax aceitar vender. O presidente Leco diz que ninguém ainda conversou sobre isso.

O Ajax tem orçamento anual de 85 milhões de euros (R$ 380 milhões). O São Paulo tem previsão orçamentária de R$ 471 milhões para este ano. Enquanto o Ajax rejeita oferta que representaria 35% de sua arrecadação total, o São Paulo pode fazer novas vendas. “Do ponto de vista econômico, estamos mais próximos de escolher quem vender do que há alguns anos”, diz o Leco.

David Neres comemora gol pelo Ajax na Champions League
David Neres comemora gol pelo Ajax na Champions League - Wolfgang Rattay-10.abr.19/REUTERS

Este é mais um capítulo da transformação pela qual o futebol brasileiro se recusa a passar. Há dez anos, os cinco clubes mais populares do Brasileiro recebiam R$ 25 milhões de TV. Hoje, o Flamengo fatura anualmente o dobro do Ajax. 

O incêndio no Ninho do Urubu aconteceu no dia 8 de fevereiro e matou dez promessas rubro-negras. Seis dias depois, no Fla-Flu semifinal da Taça Guanabara, o Flamengo escalou 11 titulares e usou três reservas na derrota para o Fluminense por 1 a 0. Nenhum deles formado na base. A equipe provável para o clássico deste domingo (5), São Paulo x Flamengo, pode ter no máximo três pratas-da-casa. 

“Craque o Flamengo faz em casa” era um slogan da primeira gestão Márcio Braga e levou ao título mundial com oito pratas-da-casa. A filosofia ficou de lado nesta época em que se acredita que os clubes mais ricos do Brasil podem comprar tudo, inclusive a felicidade. Há uma certa crise de identidade. Do time titular, que não será escalado hoje, no Morumbi, Léo Duarte é o único nascido na Gávea.

A discussão sobre a identidade de cada clube parece supérflua, mas pode ajudar a criar times com características aceitas pelas arquibancadas. Cada time brasileiro tem seu jeito. O São Paulo viveu grandes fases atacando adversários. O Flamengo, idem. O Corinthians aceita mais as equipes raçudas, os palmeirenses gostam de academias, mas conviveram e foram felizes com o pragmatismo de Felipão

Na Holanda, atribui-se o renascimento do Ajax à recuperação de sua identidade. Na fase de grupos da Champions League de 2011, uma derrota para o Real Madrid por 2 a 0 ligou o alerta. “Poderia ter sido 10”, diz o jornalista, Tiemen van der Laan, da revista Voetbal Internacional. Na semana seguinte, Johan Cruyff escreveu um artigo devastador em sua coluna no jornal De Telegraph. Disse que o Ajax tinha virado balcão de negócios e rejeitado sua vocação ofensiva. A direção acatou algumas ideias. O Ajax está a um jogo de sua primeira decisão em 24 anos. Será o finalista com a menor média de idade em todos os tempos.

Tudo tem meio termo. Mês passado, uma reunião da direção decidiu que, na próxima temporada, será necessário ter mais jogadores experientes. A lição do Ajax não é essa. É entender que é possível manter jogadores jovens por mais tempo, como o Santos fez com Neymar. 

Aqui, a economia do futebol vive das transferências. Quando um jogador vai, um agente leva 10%, Quando retorna, mais 10%. Falamos apenas das comissões legalizadas.

Muito mais legal será quando o São Paulo puder manter David Neres por três anos ou o Flamengo preferir segurar Vinicius Junior a contratar De Arrascaeta, o jogador mais caro da história do Brasil.

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