Era óbvio que Tite convocaria Neymar, porque até a Europa tratou de maneira diferente o soco na boca do torcedor, em Paris, e a cusparada de Douglas Costa em Di Francesco. A Federação Italiana suspendeu Douglas por quatro jogos. A Francesa puniu Neymar por três. Absurdamente branda, a suspensão na França poderia ter sido o diferencial para que o camisa 10 da seleção tomasse tino.
A decisão de Tite sobre a braçadeira de capitão não é tão clara. Na Copa América, a tarja deve ir para o braço de Daniel Alves. É o jogador com maior número de partidas e o único que diz verdades a Neymar. Foi o primeiro a afirmar publicamente que Neymar errou no episódio do Stade de France.
Tratadas a convocação e a capitania de Neymar, a frase mais relevante de Tite não passou nem perto de ser manchete. Tite admitiu que, depois da Copa do Mundo, não conseguiu fazer a seleção jogar bem. Depois do Mundial, houve 7 jogos, 6 vitórias e um empate. Brilho zero.
Embora seja a menor renovação em Copas Américas recentes, nenhuma seleção do mundo mudou tanto depois da Copa quanto a brasileira. De 46 convocados para os 7 amistosos após a derrota para a Bélgica, 20 jamais haviam sido chamados, 43% de mudanças. A lista da Copa América reflete a tendência. Agora há 39% de renovação.
Depois da derrocada em Moscou, a Alemanha deu chance a 5 novatos e a França a 4. Dos 32 pré-convocados pela Argentina, 37% chegaram depois do Mundial da Rússia. É muito. Menos do que o Brasil.
A mudança de gerações explica, em parte, o desempenho ruim. Ninguém vai pensar desta maneira se o Brasil não vencer a Copa América.
Vai haver pressão. Não demissão. Pelo menos as informações de dentro da CBF indicam que Tite permanecerá se tiver bom desempenho no torneio, mesmo com derrota. Parece evidente que fontes oficiais deem versões oficiais, mas não era assim com Dunga em 2016. Você leu nesta coluna que, se perdesse a Copa América, Dunga corria o risco de cair. Caiu.
A paciência para ver uma seleção nascer e se fortalecer deveria ser, no Brasil, proporcional à que houve nos últimos campeões mundiais. Em 2017, a França perdeu da Espanha, da Suécia e empatou com Luxemburgo. Em 2018, ergueu a taça. Em 2012, a Alemanha deixou os suecos empatarem por 4 a 4 uma partida que vencia por 4 a 0. No ano seguinte, perdeu dos Estados Unidos e empatou com o Paraguai. No Maracanã, em 2014, levantou o troféu.
No Brasil, lamentamos termos deixado de ser potência. Mais justo é perceber que compartilhamos lugar na elite com mais seleções do que no passado. Era fácil ganhar da Bélgica nos anos 1960 e, mesmo assim, o Brasil levou 5 a 1 em 1963.
Hoje este tipo de confronto é muito mais pesado e exige preparação mês a mês. Seleção não é momento. Esse é mantra ultrapassado, do tempo em que se convocava os melhores e treinava-se por 3 meses até ganhar a Copa. Não há 3 meses de treinos. Seleção é continuidade.
Craque do Barcelona e Real Madrid nos anos 1990 e 2000, o português Luis Figo disse que há outros países com gerações melhores do que o Brasil.
A Bélgica e a França são bons exemplos. Mas elas não se renovam com a mesma velocidade. Não tem tanta gente aparecendo. Perguntado por este colunista se a geração é boa ou ruim, Tite repetiu que foi a lista que mais lhe deu medo de cometer injustiças. Mas se esquivou de comparar gerações.
O grupo atual tem carências, falta meia criativo, centroavante decisivo, mas é suficiente para montar seleção capaz de ser campeã mundial. Para isso, é preciso ter consciência de cada etapa. Saber que o time não está jogando bem. Que é preciso corrigir isso. E que Neymar será parte disso.
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