Muito pior do que a fria estreia da seleção brasileira contra a Bolívia, na sexta-feira (14), foi o início da Argentina, com derrota para a Colômbia.
Lionel Scaloni é o sétimo treinador dos argentinos em nove anos. A lista, sozinha, explica os insucessos recentes. Scaloni é treinador há dez partidas, Sampaoli ficou 15, Edgardo Bauza (8), Gerardo Martino (29), Sergio Batista (17) e Maradona (24). A exceção foi Alejandro Sabella (41), vice-campeão mundial, a única semifinal de Copa da celeste e branca depois de 1990.
A Croácia venceu a semifinal do Mundial da Rússia no 13º compromisso de Zlatko Dalic. Parece desmentir que a bagunça leve ao fracasso. Mas o vice-campeonato da Croácia faz saltar aos olhos como há seleções fortes que, no passado, não se precisava levar em conta. A Ucrânia foi campeã mundial sub-20, vencendo a decisão contra a Coreia do Sul. O Brasil nem sequer se classificou para a disputa, a Argentina caiu nas oitavas de final contra Mali e o melhor sul-americano foi o Equador, semifinalista.
A Venezuela, adversária do Brasil nesta terça-feira (17), em Salvador, tem cinco vice-campeões mundiais sub-20 de dois anos atrás.
Existe um meio caminho entre cobrar das seleções mais tradicionais desempenhos à altura de suas histórias e compreender o cenário do futebol mundial. Muitas vezes, quem parece desatualizada é a imprensa.
Os venezuelanos estrearam com boa atuação no primeiro tempo contra a seleção peruana, e queda de produção na segunda etapa. Os peruanos são dirigidos por um mesmo treinador argentino há 57 partidas. Ricardo Gareca consegue, em Lima, o que nenhum de seus compatriotas alcançou em Buenos Aires. Das últimas três edições de Copas América, os peruanos foram semifinalistas duas vezes. A Venezuela chegou em uma. O Brasil, nenhuma.
Há quem pegue esses dados e grite que a seleção brasileira não é mais potência. Basta observar a quantidade de jogadores que saem daqui para atuar em bom nível na Europa para perceber que tem faltado mais trabalho do que talento.
Antes mesmo de a Copa América começar, já se sentencia que a CBF mente ao afirmar que Tite seguirá como treinador, se não for campeão. Tem de seguir. Tite completará contra a Venezuela seu jogo número 38. Nesta década, o Brasil foi dirigido por Mano Menezes (33 jogos), Felipão (29), Dunga (19).
Não é tão absurdo quanto a Argentina, mas o eterno reinício também é estarrecedor.
A tentativa de voltar pelo menos às semifinais da Copa América, depois de 12 anos, passa agora por uma reforma na maneira de jogar do Brasil.
“Mudamos o desenho”, diz o assistente-técnico Cléber Xavier. Na Copa do Mundo, toda vez que o ataque acontecia pelo lado esquerdo, o lateral direito infiltrava-se como meia, parecido com o Santos de Sampaoli.
Hoje, Tite prefere Daniel Alves sempre aberto pela direita, porque Richarlison não é ponta. É segundo atacante, entra na área e se aproxima do centroavante. Por isso, o segundo volante fica mais recuado, em comparação com Paulinho, na Copa do Mundo. Sua função é proteger os avanços de Daniel Alves.
O único jeito de voltar a ser vencedor é respeitar as etapas de amadurecimento de um time. Seleção não é momento. É continuidade.
Com e sem Marta
A seleção feminina joga contra a Itália. As italianas não têm tradição, mas venceram 9 de suas 11 partidas neste ano e já se garantiram nas oitavas. O Brasil é time de um ritmo só. Joga em linha reta, vertical. Alguém precisa saber a hora de cadenciar o jogo. Daí ser fundamental a experiência de Marta.
Messi x Cristiano
Cristiano Ronaldo mudou o destino da seleção portuguesa, e Messi não consegue fazer o mesmo com a Argentina. Seria simples se fosse na NBA, mas, no futebol, o aspecto coletivo tem sido mais decisivo. Cristiano ganhou Euro e Liga das Nações porque Portugal evoluiu mais que a Argentina no futebol.
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