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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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No Brasil, os times ricos também choram

Discurso da espanholização do futebol é repetido desde 2010, mas ela nunca chegou

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A semana passada começou com o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, declarando que o Brasileiro está separado entre Flamengo e Palmeiras, de um lado, e outros 18 clubes de outro. O tal processo de espanholização, que pressupõe os dois times mais ricos serem hegemônicos no Brasil. Discurso repetido desde 2010 e que nunca chegou.

Na verdade, até mudou de endereço. Há cinco anos, antes de o Palmeiras explodir em receitas com TV, plano de sócios-torcedores e patrocínio da Crefisa, a discussão era sobre como evitar que Flamengo e Corinthians fossem soberanos.

Presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, durante treino no CT Joaquim Grava, na zona leste de São Paulo
Presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, durante treino no CT Joaquim Grava, na zona leste de São Paulo - Daniel Augusto Jr. - 8.nov.2018 / Ag. Corinthians

É surpreendente que nos esportes americanos, a NBA tenha construído hegemonia maior do que os clubes do Brasil. O Toronto foi o campeão, em junho. Nas quatro temporadas anteriores, Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers disputaram quatro finais, apesar de todo o cuidado dos EUA para manter o equilíbrio.

Corinthians e Flamengo farão clássico disputadíssimo em Itaquera, apesar do encanto com o sistema tático com pressão alta de Jorge Jesus e o desencanto com o Corinthians, onde o único ataque é de nervos. As quartas de final da Copa do Brasil evidenciaram, mais uma vez, que o Brasil não está pronto para ter equipes dominantes, como Real Madrid e Barcelona, na Espanha.

Há razões para isso.

O Palmeiras é o time de maior faturamento do país. Seu centroavante, Deyverson, não é artilheiro do time. Seu meia-armador, Lucas Lima, só deu um passe para gol em 36 jogos.

No segundo time mais rico do país, o Flamengo, Jorge Jesus é o quarto treinador em 12 meses. Mudou o treinador e o sistema tático. A marcação por pressão abre espaços nas costas dos laterais. Enquanto não estiver tudo bem ensaiado, haverá risco de sofrer gols assim. O Athletico-PR empatou o jogo no Maracanã com Rony, nas costas de Rafinha.

O ano da graça de 2012 foi de título mundial do Corinthians e também a última temporada em que seus cofres foram os mais recheados do país. De lá para cá, a receita do Flamengo subiu 156% e o Palmeiras cresceu 181%. No mesmo período, o Corinthians diminuiu a arrecadação e, depois de voltar a crescer, arrecada apenas 30% a mais do que há sete anos.

O argumento de que a bilheteria vai direto para o pagamento do estádio é justo. Mas seria superado se fossem criadas outras fontes de arrecadação. Por exemplo, os naming rights, que o Allianz Parque tem e o Corinthians prometeu, mas não conseguiu cumprir.

Não haverá 12 clubes brigando em condições iguais por todas as taças. Nunca houve. Por mais que sejam equivalentes em gigantismo, os 12 times mais tradicionais do país revezaram-se no topo. O Santos ganhou seis títulos nacionais na década de 1960 e só voltou a conquistá-los a partir de 2002. O Corinthians ganhou o Brasileiro quatro vezes neste século, mas passou 23 anos sem ganhar nada, entre 1954 e 1977. O Flamengo foi quase hegemônico, com cinco Brasileiros entre 1980 e 1992 e só ganhou um nos últimos 27 anos.

Hoje, há cinco clubes capazes de se tornarem polos de desenvolvimento do futebol: Corinthians, Flamengo, Grêmio, Palmeiras e São Paulo.

Só estão fora desta lista os dois mineiros, o Santos e o Inter, por causa das dívidas altas ou dificuldade de faturamento. Nada que não possa se transformar em dois anos.

O Brasil ainda tem um argumento único, na comparação com os principais torneios do planeta, para ter um campeonato capaz de aumentar seu interesse: a imprevisibilidade.

O Flamengo arrecada hoje perto de R$ 200 milhões a mais do que o Corinthians. E, mesmo assim, não é favorito para o clássico de Itaquera.

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