O anteprojeto do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) para transformar clubes em empresas encontra tanta oposição que CBF e Juca Kfouri têm a mesma opinião: são contra. Eu também. Os pais da tentativa mais justa de transformação são os advogados Rodrigo Monteiro de Castro e Francisco Manssur.
Autores do livro “Futebol, Mercado e Estado”, debruçaram-se sobre modelos que funcionaram no exterior e trouxeram uma adaptação das sociedades anônimas desportivas (SAD) de Portugal e Espanha. Assim nasceu o plano das sociedades anônimas de futebol (SAF), que chegou ao Congresso, onde foi violentado.
A SAF é uma boa ideia. Especialmente por entender que o futebol brasileiro precisa de uma transformação. Ela acaba com a escravidão da política de clube. Se conselheiro fosse bom, a gente vendia. Mesmo a SAF não vai produzir um milagre. O Benfica tornou-se um clube poderoso, com estrutura moderna e até emissora de TV.
O Belenenses, não. Clube tradicional de Lisboa, campeão português de 1946, o Belenenses comemorou seu centenário há dez dias em sua maior crise. Rompeu com a SAD, mas houve decisão judicial que deu razão à empresa e extinguiu os direitos de recompra pelo time do bairro de Belém, de onde saíram as caravelas de Cabral.
O Belenenses SAD está em antepenúltimo lugar no Campeonato Português, proibido pelo clube de jogar no estádio do Restelo e de usar o emblema tradicional. O Clube de Futebol Os Belenenses passou a jogar o campeonato distrital de Lisboa e sonha voltar à primeira divisão em seis anos.
Não é o primeiro caso de cisão em Portugal. O Atlético, de Lisboa, passou pelo mesmo processo. No Brasil, já acreditamos que Lei Zico e Lei Pelé resolveriam todos os problemas. Também julgamos que os pontos corridos seriam uma revolução. O Brasileiro é muito melhor do que já foi, mas não existe milagre. Só trabalho.
Hoje, a legislação já permite a transformação em empresa. O São Paulo debate a criação de sociedade anônima, o Botafogo finaliza o projeto de sociedade de propósito específico e o Botafogo-SP está a dois pontos da zona de acesso para a Série A. Depois da última eleição, o presidente do Botafogo-SP entendeu que o controle da gestão está com a empresa. O Belenenses não entendeu isso.
Uma das discussões atuais é como uma empresa pode ter sucesso pagando impostos
—clubes são isentos de Confins, CSLL (Contribuição Social Sobre Lucro Líquido) e PIS. É o que se aponta como razão do insucesso de experiências. Líder da Série B, o Red Bull não pensa assim. O fracasso sempre é culpa da incompetência.
O Figueirense associou-se a uma empresa e está deixando a Série B em direção ao ostracismo. A Portuguesa, o América, o Bangu e o Guarani já trilharam o mesmo caminho e nunca deixaram de ser associações sem fins lucrativos.
O Milan está em 16º lugar no Italiano e desce a ladeira depois da venda por Silvio Berlusconi. O Manchester United abriu a rodada da Premier League em décimo lugar. Quando foi campeão mundial, em 1999, seu rival Manchester City estava na terceira divisão. Hoje, o City briga pelo tricampeonato.
Os deputados Pedro Paulo (DEM-RJ) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) sonham com investimentos do exterior nos clubes do Brasil. Pode ser bom se aqui não virar o paraíso do picareta internacional, o que ocorre, em parte, na Inglaterra.
Aqui, cada aeroporto em dia de jogo grande mostra o potencial. Havia 6.000 rubro-negros em Porto Alegre. O Maracanã recebe 12% do público de fora do Rio. É gente que movimenta hotéis, restaurantes, companhias aéreas, taxistas. Futebol gera emprego e paga imposto. Vai ser ótimo para o país se um dia der certo.
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