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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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No Brasil, planejamento ainda pode ser mais importante que o dinheiro

Enquanto o Cruzeiro foi rebaixado com folha de pagamento de R$ 14 mi, o Flamengo foi campeão gastando R$ 13 mi/mês

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O sorteio das chaves das oitavas da Champions, nesta segunda-feira (16), pela primeira vez reunirá apenas clubes das cinco ligas mais ricas da Europa: Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França.

Na temporada passada, o holandês Ajax chegou às semifinais. Nas edições mais recentes, clubes da Turquia, Ucrânia, Portugal e Bélgica também se classificaram para os mata-matas.

Há quase uma década, o resultado da Champions ficou mais previsível do que era no passado. Ganha sempre o Real Madrid, o Barcelona, o Bayern ou um time inglês. Foi o caso do Liverpool, provável adversário do Flamengo na final do Mundial de Clubes, no sábado (21).

O que é, no Brasil, uma ameaça, na Europa é uma realidade. "Na Champions League, os ricos não são cada vez mais ricos. Eles têm tudo." A descrição é de Rory Smith, correspondente do The New York Times na Inglaterra. ​

A última vez que um time fora do eixo Inglaterra-Alemanha-Espanha conquistou o troféu foi em 2010, quando a Inter (ITA) era treinada pelo português José Mourinho e não tinha nenhum italiano titular.

É como pensar que, no Brasileiro, a última conquista fora de Rio-São Paulo-Minas aconteceu em 2001, com o Athletico-PR. Deste ponto de vista, os ricos aqui sempre tiveram tudo também.

Até 1986, o Nacional tinha um formato parecido com a Champions. Os estaduais classificavam para o torneio e ofereciam vagas em maior ou menor número de acordo com a importância de cada estado. A partir de 1988, quando passou a haver acesso e descenso, o Brasil tinha dois caminhos: 1. Revitalizar os estaduais; 2. Dinamizar o Brasileiro. Em trinta anos, não aconteceu nem uma coisa nem outra.

Os estaduais minguaram, o campeonato nacional nunca ficou do tamanho que pode e clubes que se sentiam grandes agora sabem que brigam para não cair.

Na mesma época, o final da década de 1980, os clubes europeus sonhavam com um torneio continental que representasse para o futebol o que a NBA significava para o basquete. Conseguiram.

A Champions rivaliza com a Copa do Mundo, mas a periferia da Europa só tem chance de festejar um troféu com seus jogadores, nunca com seus clubes. A Croácia pode comemorar o Real Madrid por causa de Modric ou o Bayern por Perisic. Mas o croata Dinamo de Zagreb não tem forças para eliminar nem sequer a pequena Atalanta, da Itália.

Portugal festeja a Libertadores de Jorge Jesus. Porto e Benfica dificilmente voltarão a ganhar a Champions.

Vai ser muito difícil que mudem os países dominantes. Nas grandes ligas, o que pode acontecer é o revezamento dos clubes. Na Premier League, Manchester United e Chelsea controlavam os troféus há dez anos. Hoje, não chegam nem perto de Liverpool e Manchester City.

É possível que o Brasil também viva ciclos assim. Parece impossível o Flamengo não brigar por todas as taças nos próximos anos, mas é provável que alguém fure a fila. A ameaça de polarização entre rubro-negros e palmeirenses pode dar lugar, daqui a cinco anos, a Corinthians x São Paulo.

Ou pode ser que a polarização por períodos longos de tempo nunca aconteça aqui. Na Espanha, Real Madrid e Barcelona revezam-se nos dois primeiros lugares em 11 dos últimos quinze campeonatos espanhóis. No Brasil, jamais dois times foram campeão e vice por dois anos seguidos.

A informação de que o Cruzeiro foi rebaixado com folha de pagamento de R$ 14 milhões e o Flamengo foi campeão gastando R$ 13 milhões/mês dá noção de que planejamento por aqui ainda pode ser mais importante do que o dinheiro.

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