“Devo confessar preliminarmente que eu não sei o que é belo e nem sei o que é arte.” A frase de Mário de Andrade passeou pelas ruas de São Paulo, estampada no caminhão que liderou um cortejo, com homenagens ao modernismo e à cidade, no sábado (25) de seu aniversário.
Verdade que com dois anos de antecedência à festa que deverá marcar os cem anos da Semana de Arte Moderna, de 11 a 18 de fevereiro de 1922.
Ainda não é o centenário.
Também não faz cem anos que Paulo Mendes Campos declarou que a imprensa esportiva precisava de sua semana de arte moderna. A lembrança vem à mente por causa do cortejo com a frase de Mário de Andrade e pela entrevista coletiva de Jesualdo Ferreira, depois de vencer o Guarani, em Campinas, na segunda-feira (27).
Questionado sobre seu Santos ter menos intensidade do que tinha com Sampaoli, subiu um pouco o tom, mas disse com propriedade: “Eu estou aqui só há quinze dias”.
Devo confessar preliminarmente que eu não sei o que é futebol belo e nem sei o que é futebol arte, mas certamente é preciso de treinamento para realizar os dois estilos. Até mesmo a experiência de Jorge Jesus, compatriota de Jesualdo, evidencia isso. Ou não haveria o famoso grito “tá mal, Arão”, em seu primeiro jogo-treino contra o Madureira.
Se não fosse necessário treinar, Arão estaria bem.
O Santos do treinador português fará apenas seu quarto jogo neste domingo, em Itaquera, contra o Corinthians. Existe uma pressa em comparar o que Jesualdo fará com o que Sampaoli fez e isso não será medido em um mês. Em outros tempos, foi diferente.
Quando Lula deixou o Santos, depois de perder a final da Taça Brasil de 1966, não se cobrava de Antoninho, seu sucessor, o mesmo desempenho. Cobrava-se de Pelé, Carlos Alberto, Toninho Guerreiro, Clodoaldo e Edu. Os técnicos tinham outra importância.
O jornalista tem o dever de perguntar, mas é justo com o entrevistado que a pergunta leve a um esclarecimento, em vez de uma polêmica. Entrevista não é palanque, nem do entrevistado nem do entrevistador.
Jesualdo Ferreira incomodou-se com a pergunta e esclareceu, em bom português de Portugal: “A bola corre porque não cansa”. Minha mulher perguntou a um garçom lisboeta se o abacaxi, da sobremesa, estava docinho. Ele respondeu: “Não sei, não comi”.
Nada mais esclarecedor.
Há perto de 270 milhões de habitantes do planeta que falam português e 210 milhões estão no Brasil. Mas o idioma se chama português e obviamente é falado com muita clareza pelos criadores dessa língua pátria. Jesualdo foi preciso, direto, rápido e franco.
O difícil é admitir que Portugal disputou só 7 das 21 Copas do Mundo, enquanto o Brasil disputou todas. Mesmo assim, hoje tem uma capacidade de debater o jogo que nos falta.
Não sei o que é belo, nem o que é arte, mas sabemos que o Corinthians jogou muito bem contra o Botafogo, de Ribeirão, na estreia do estadual, fez 20 minutos perfeitos contra o Mirassol, depois não sustentou o ritmo intenso e perdeu para a Ponte Preta, em Campinas. Entre outras razões, porque Tiago Nunes também trabalha há menos de um mês.
Na quarta-feira (5), o Corinthians estreará na Libertadores contra o Guaraní, do Paraguai. Se perder em Assunção e também, hoje, contra o Santos, Tiago Nunes será cobrado pela falta de resultado.
Devo confessar, como epílogo, que Mário de Andrade tem outra frase, talvez ainda mais perfeita, para a nossa necessidade de realizar a semana de arte moderna do futebol: “Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil”.
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