A tabela dos estaduais, sem grandes clássicos no final de semana, transformou o Pré-Olímpico no assunto mais importante do domingo (9). O Brasil pode não se classificar para a Olimpíada. Para ter certeza de que disputará o torneio, tem de vencer a Argentina, que ganhou todos os seus jogos.
Ficar fora da Olimpíada não é novidade. Aconteceu nos Pré-Olímpicos para Moscou (1980), Barcelona (1992) e Atenas (2004), mas a eventual eliminação será mais um ponto de reflexão.
As desclassificações sempre ocorreram com bons jogadores, que disputariam Copas do Mundo. Mauro Galvão e Édson Boaro, eliminados de Moscou, estiveram no México, em 1986.
Cafu, Márcio Santos e Roberto Carlos, desclassificados de 1992, foram campeões mundiais. Robinho, Elano, Gomes, Maicon, Maxwell e Nilmar pensaram que não iriam a lugar nenhum em 2004, mas depois disputaram Copas.
Dos medalhistas de ouro em 2016, só Neymar, Renato Augusto, Marquinhos e Gabriel Jesus foram ao Mundial da Rússia. A história tem exemplos de eliminados nos Pré-Olímpicos mais valiosos do que campeões olímpicos. Fujamos, portanto, do diagnóstico da catástrofe, de dizer que acabou o talento.
O que muitas vezes falta é a condição de liberar os mais talentosos que trabalham precocemente na Europa ou simplesmente dar motivação, para que queiram jogar com a camisa da seleção.
Da convocação final, ficaram ausentes cinco jogadores pretendidos pelo técnico André Jardine: Martinelli, Wendell, Émerson, Douglas Luiz e o zagueiro Gabriel, do Lille.
Martinelli passou a semana sem jogos na Inglaterra, em função da parada de inverno introduzida neste ano no calendário da Premier League. Martinelli poderia estar no Pré-Olímpico, mas é direito do Arsenal não o liberar.
É o que justifica o presidente da CBF, Rogério Caboclo. Ele afirma estar se envolvendo diretamente nos processos de liberação. “Não é Data Fifa”, argumenta. Ou seja, ninguém tem obrigação com as seleções.
Mas é preciso programar e montar times com mais certezas de que se vai poder contar com os melhores jogadores nos torneios mais importantes.
Revelação do Ituano no Paulista de 2019, Martinelli foi comprado pelo Arsenal por 9 milhões de euros (R$ 42,5 milhões). Hoje, divide-se entre a chance de ser convocado pelo Brasil ou pela Itália.
Se aceitar a Azzurra, Martinelli sabe que terá mais chance de jogar do que na seleção de Tite. Nas últimas três Copas, a Itália foi eliminada duas vezes na fase de grupos e não se classificou em 2018. Thiago Motta, Jorginho e Éder, nascidos no Brasil, atuaram pelos italianos nesse período.
Caboclo falou com Martinelli. A promessa é de que jogará pela seleção brasileira.
Os desfalques do Brasil não são apenas os cinco substituídos por Jardine. Rodrygo e Vinicius Júnior poderiam jogar o Pré-Olímpico, se não estivessem no Real Madrid. Eles querem estar lá, preparando-se para tentar eliminar o Manchester City, na Champions League.
Hoje, quem sofre é a seleção pré-olímpica. Aos poucos, será a principal. A Copa América deste ano é Data Fifa. Mas teve Copa América ano passado, e os clubes podem reclamar do excesso de competições da Conmebol. No futuro próximo, a Fifa pode proibir dois torneios com liberação compulsória por dois anos seguidos.
Em breve, também haverá jogadores que consideram melhor uma seleção europeia do que a dos países em que nasceram. Seleção brasileira competitiva sempre foi redundância. Para que continue sendo, é preciso que os melhores jogadores desejem e consigam estar nos torneios relevantes.
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