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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Parada poderia aglutinar clubes num projeto grande para o futebol brasileiro

Campeonatos deste ano correm o risco de ficar nulos dependendo de extensão da paralisação

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John Kennedy trouxe para o ocidente a visão de que, em chinês, a palavra crise junta dois caracteres: perigo e oportunidade. A tradição oriental diz que "weiji" é o período crucial em que um grave perigo ameaça a existência. Essa interpretação pretende ser mais exata do que a do ex-presidente dos EUA, assassinado em 1963. Em português, sabe-se que toda crise traz uma oportunidade.

Há só duas informações concretas sobre o que a paralisação do futebol brasileiro pode trazer para o futuro do calendário. A primeira é que a CBF pensa, inicialmente, em terminar todos os torneios paralisados para, só depois, começar o Brasileiro. Isso pode mudar. Tudo pode.

Estádio do Murimbi vazio para a partida entre São Paulo e Santos, no sábado (14); competição foi paralisada após essa rodada
Estádio do Murimbi vazio para a partida entre São Paulo e Santos, no sábado (14); competição foi paralisada após essa rodada - Eduardo Knapp/Folhapress

Se a paralisação durar seis meses, pode não haver tempo de fazer nada e todos os campeonatos ficarem nulos. Todas são hipóteses. Mas a ideia inicial da CBF é terminar o que parou e depois iniciar o Brasileiro. A outra informação é que o movimento que já estava em andamento antes da parada, reunindo clubes que pretendem aumentar a arrecadação do futebol brasileiro, entende ter chance de ficar mais forte.

A tentativa de uma nova liga não é unânime, mas tem reunidos clubes como Atlético-MG, Athletico, Corinthians, Santos, Bahia, Sport, Vasco e Cruzeiro. Alguns, como Palmeiras e São Paulo, ainda não se aproximaram. O isolamento recente do Flamengo reforça a tese dos clubes que pretendem criar a liga.

Por mais que o rubro-negro tenha se transformado no clube mais poderoso do Brasil, na maior referência técnica e econômica, não dá para imaginar que o Flamengo vá jogar contra o Flamengo, para que o campeão seja o Flamengo.

O discurso de 8 dos 20 maiores clubes do país é da necessidade de se juntar para salvar o futebol da falência e começar um processo de crescimento: "Ou a gente faz isso, ou vai sucumbir", diz um dos líderes do movimento que julga melhor não se identificar e trabalhar em silêncio.

O projeto passa por aumentar receitas de placas de publicidade e de direitos internacionais de televisão. Outras propriedades também.

O Brasil está atrasado nisso faz 35 anos. Se a Copa União nasceu em 1987, cinco anos antes da Premier League, é sinal de que o Brasil já desperdiçou chances aos montes.

Até o Flamengo precisa dos rivais para ser cada vez mais forte. Ou será a velha lei de Eurico: "Eurico faz mal ao futebol brasileiro, mas faz bem ao Vasco." Quantas vezes repetiu-se essa bobagem?

Ora... Se Eurico fazia mal ao futebol brasileiro e se o Vasco faz parte do futebol brasileiro, como faria bem ao Vasco?

Na nova aliança, também é bom haver cuidado, porque há bons homens com passagens por empresas ruins, o que pode também representar maus homens que ajudaram a destruir boas empresas.

Sempre há de se separar a oportunidade do oportunismo. Isso à parte, é preciso entender a necessidade de aglutinar grandes clubes, incluir São Paulo, Palmeiras e Flamengo e fazer um projeto grande para o futebol brasileiro. Talvez aproveitar a parada e inverter o calendário, com o problema óbvio de que, se o Brasileiro terminar em maio do ano que vem, haverá necessidade de indicar os representantes para a Libertadores e Copa Sul-Americana.

E será necessário sentido coletivo. O Campeonato Paulista de 1918 parou por três meses pela gripe espanhola e só retornou porque se aceitou disputar apenas os jogos decisivos. O Paulistano foi campeão com 16 partidas, o Corinthians foi vice com 17.

"Weiji" (lê-se ueiti) se parece com o inglês "wait" (esperar). Vai ser preciso paciência e, aos poucos, entender se será possível ter esperança.

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