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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Futebol Feminino

Todos que amam futebol deveriam saber se a filha também ama

Dizem que a seleção feminina não tem Copa por causa da CBF, mas também é reflexo de como (não) vemos o futebol delas

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Tite já convocou 67 jogadores depois da Copa do Mundo de 2018, 34 nunca tinham jogado com ele na seleção. A média de renovação é de 51%, maior do que de qualquer outro time nacional do planeta —a Argentina renovou 36% depois do Mundial. Dia 27, o Brasil estreia nas eliminatórias.

Pia Sundhage chamou 46 jogadoras para seus primeiros dez jogos, e só 6 nunca tinham sido convocadas antes. O índice de renovação é de 13%.

Mas a crítica a Tite é de não renovar, e Pia segue seu trabalho com a impressão de que está mudando tudo. Pia muda métodos, mais do que nomes. Na quarta (4), o Brasil empatou em 0 a 0 com a Holanda e equilibrou o jogo com as vice-campeãs mundiais. Até terça (10), terá enfrentado outras duas forças, França e Canadá.

Não existe seleção que quebre sua espinha dorsal a cada derrota, e Pia Sundhage ensina isso no feminino.

Mas parece que Tite não tem o mesmo direito, porque todo mundo quer a seleção jogando como o Flamengo. Não vai jogar. Tem então de jogar bem, o que se viu poucas vezes depois da Rússia.

Verdade que ele já teve mais tempo do que ela, mas não se trata disso, apenas. Nenhuma decisão do técnico será unânime, e raras escolhas da técnica serão debatidas em programas de TV.

Dizemos que a culpa de a seleção feminina não ter uma Copa nem medalha de ouro é só da CBF, mas é também reflexo da maneira como (não) vemos o futebol das mulheres. Cuidado e atenção só nas grandes competições, problema idêntico ao dos esportes olímpicos.

Juro que tenho o maior orgulho de saber que minha filha é canhota de pé, porque joguei bola com ela. Bruna escreve com a mão direita e, se não tivesse dado nenhum chute, talvez jamais soubesse de sua habilidade com a perna esquerda. Ela tem uma bomba!

Você já viu sua filha jogar?

O fracasso no feminino é de todos os que amam futebol e nunca deram a menor pelota para saber se a filha também ama. Ainda assim, o Brasil é o país latino com mais tradição, mais do que Itália, Argentina, Portugal, até mesmo Espanha, que evolui mais rápido.

A preparação para a Olimpíada vai bem porque Pia não permite o que ela chama de "pop corn time" (a hora da pipoca). Não quer dizer que não se pode pipocar, mas que em todos os momentos as jogadoras precisam ter função, conceito que, no masculino, ganhou uma palavra chavão: intensidade.

Com todas as diferenças de atenção e de cobrança, o Brasil tem o compromisso de ganhar a Copa América com Tite, o ouro com Jardine, a Copa do Mundo daqui a dois anos e, para as mulheres, a medalha de bronze vai ser uma vitória.

 

Não é um erro a diferença das cobranças, porque o investimento da CBF —e da sociedade— no esporte feminino sempre foi mil vezes menor do que no masculino.

Mas, se a cobrança pode diferir, o trabalho para voltar a ser potência precisa ser equivalente. O Brasil chegou a uma semifinal das últimas quatro Copas do Mundo masculinas e perdeu por 7 a 1. Entre as mulheres, os três vice-campeonatos —dois olímpicos e um mundial— vão se transformar em troféus rapidamente, se houver de fato interesse em produzir jogadoras, times e campeonatos.

Nos dois casos, é preciso investir em conhecimento. O Brasil se orgulhou de ser o país do futebol e precisa voltar a ser, com meninos e meninas jogando em 8,5 milhões de quilômetros quadrados e com a CBF montando seleções modernas e competitivas.

As eliminatórias, com Tite, e o Torneio da França, com Pia, precisam ser o ponto de partida para duas seleções brasileiras capazes de serem campeãs.

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