É impossível dizer o que vai acontecer com o calendário do futebol. As federações estaduais formulam protocolos de saúde, para serem colocados em prática assim que o Ministério autorizar o retorno aos treinos.
Diferente do que parecia no início da crise, o menor problema não será realizar o Brasileiro. Porque as viagens podem seguir difíceis por um longo período se neste pais continente a Bahia vencer o vírus e o inverno trouxer a Covid-19 para a região sul, em agosto.
As menores distâncias tornam mais provável o reinício dos estaduais do que o início do Brasileiro. Mas há ressalvas: “O que é perto no Rio é longe em Minas”, diz o presidente do Atlético-MG, Sérgio Sette Camara.
“As menores dificuldades serão no Rio e no Espírito Santo, porque são estados pequenos”, concorda o presidente da Federação do Rio de Janeiro, Rubens Lopes.
Em meio a tantas incertezas, a certeza é a de que os pontos corridos se tornaram uma fórmula consagrada. Nem os clubes, nem a televisão, nem a CBF querem mudar o formato do Brasileiro. Pode até ser necessário neste ano, numa emergência, mas é improvável. Todos querem os 380 jogos.
Nos últimos 17 anos, discutiu-se a fórmula do Brasileiro apenas apontando opiniões individuais. Gosto, não gosto, tem emoção, não tem, prefiro o mata-mata, blablablá...
A realidade escancarou a lógica econômica. Com turno e returno e pontos corridos atende-se às necessidades básicas. Quem compra o pay-per-view sabe quantas partidas vai assistir. Quem tem fidelidade a um plano de sócio torcedor, prevê quantas vezes irá ao estádio.
Como todo campeonato é como uma plantinha, que precisa ser observada a cada dia, para entender onde está crescendo e onde está seca, ainda é preciso muito trabalho para haver aqui um torneio modelo. Pecado do passado foi julgar que apenas adotar uma fórmula idêntica a dos europeus traria o mesmo sucesso.
Não é tão simples.
A proximidade da assinatura de um contrato de direitos internacionais, para que o futebol brasileiro finalmente tenha chance de ser exibido na Europa, Estados Unidos e Ásia, também exige que se faça campeonatos melhores a cada edição.
Deste ponto de vista, é uma pena o coronavírus frear o crescimento de público de 40% nos últimos quatro anos.
Mas, se trabalhar bem no retorno, o Brasileiro pode ser melhor no futuro. Era o cuidado dos ingleses, quando ofereciam os direitos de exibir a Premier League na década de 2000 a preço de degustação.
Quando o mundo se apaixonou por Manchester United, Liverpool, Arsenal, Chelsea, Tottenham e Manchester City, o preço subiu, porque o campeonato melhorou.
Jorge Jesus tem sido o maior garoto-propaganda do Brasileiro, ao dizer que o resto do planeta precisa aprender a admirá-lo. Não significa que o nível técnico seja igual ao da Espanha, Inglaterra e Alemanha. Mas pode evoluir em dez anos.
Em 1990, Chris Waddle era craque da seleção inglesa e jogava na França. Em 1992, o jogador francês mais famoso era Eric Cantona e já estava no Leeds United, na Inglagterra. Neste mesmo ano, a Lazio comprou Paul Gascoigne, do Tottenham. Quatro anos depois, o Chelsea comprou Zola, do Parma, poderoso economicamente.
Os cenários dos melhores campeonatos do planeta mudaram rapidamente nos anos 1990 e a Inglaterra passou de patinho feio a melhor torneio nacional de clubes. O dinheiro foi parte disto. Planejamento e trabalho foram mais importantes. No Brasil, hoje existe uma convicção. Clubes, televisão e CBF querem manter e melhorar a fórmula dos pontos corridos.
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