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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Tite quer o cérebro

Há 15 anos a seleção brasileira tem aceleradores, não pensadores e o time precisa de um arco e uma flecha

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Na boa entrevista de Tite à revista France Football, publicada na terça (30), sua melhor resposta foi sobre Bruno Guimarães. Não por ter elogiado o meia do Lyon, campeão da Copa do Brasil pelo Athletico. Tite respondia sobre sua admiração pela seleção de 1982 e sobre as dificuldades para repetir um time tão brilhante.

Tite aponta o dedo indicador
Tite participa de entrevista coletiva no Rio - Mauro Pimentel - 6.mar.2020/AFP

"Em algumas funções, somos um pouco menos ricos", disse Tite. Falou também em comparação com a seleção da Copa das Confederações de 2005 e referiu-se especificamente ao meio-campo. Tite gostaria de ter, nesta geração, jogadores como Falcão, ou como De Bruyne, que destruiu o Brasil na Copa da Rússia, em 2018. Sua esperança, citada nominalmente à France Football, é Bruno Guimarães.

Só que o meio-campista do Athletico começou no Lyon como 1º volante. Tite quer alguém capaz de ser meia e, ao mesmo tempo, auxiliar Casemiro. Bruno Guimarães tem uma visão de jogo de 360 graus, entende as partidas, coloca-se atrás dos volantes adversários, como fez na decisão da Copa do Brasil contra o Internacional.

Mas há também Gérson, do Flamengo. Ele está na lista dos observados pela comissão técnica da seleção e há ainda mais 3: Matheus Henrique, do Grêmio, Douglas Luiz, ex-Vasco, do Aston Villa, e Arthur, do Barcelona. Arthur é o atual titular da seleção, mas não virou com Tite o que prometeu na Libertadores de 2017.

Olhar para trás mostra que a esperança que Tite tem hoje em Bruno Guimarães já existiu sobre Renato Augusto. O ex-meia do Corinthians retribuiu à expectativa nas eliminatórias, mas não na Copa do Mundo. Também pode acontecer. Curioso só é que a comissão técnica não pense em Gérson, do Flamengo, como essa alternativa. Porque julga que Gérson não é um dos 3 melhores jogadores da Gávea. Está abaixo de Gabriel, Bruno Henrique e Éverton Ribeiro.

Ou seja, o time empurra Gérson e não o contrário. No caso do Athletico, Bruno Guimarães empurrou sua equipe para o troféu. É bem discutível.

Gérson é um dos motores do Flamengo e pode ser da seleção. Não será o único catalisador do jogo, mas auxiliará. Ou ele, ou Bruno Guimarães, ou Arthur.

O grande enigma da entrevista de Tite à revista francesa é: por que a seleção não tem mais um Falcão ou De Bruyne? E, mais do que isto, por que há 5 candidatos a esta função no futebol brasileiro (Arthur, Bruno Guimarães, Gérson, Matheus Henrique e Douglas Luiz) e a seleção ainda não conseguiu usufruir desse talento de meio-campo que existe.

Não é que o Brasil não produza meio-campistas como Falcão. É que não os desenvolve como cérebros de uma equipe. Deste ponto de vista, a seleção de hoje é um espantalho, como no Mágico de Oz, sempre à procura de seu cérebro. Já que seu coração será Neymar.

Há muito tempo é assim. O Brasil dos últimos 15 anos foi o campeão mundial de amistosos e também a seleção dos aceleradores, não dos pensadores. Mesmo a brilhante geração de 2006, que não brigou pelo título apenas porque se rendeu às baladas, tinha em Kaká, Adriano, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho gênios que partiam em linha reta para o gol. Só Zé Roberto podia cadenciar.

Qualquer grande time precisa de seu arco e de sua flecha. De alguém que pise na bola e acalme o jogo, quando o adversário cresce. O Brasil tem 5 candidatos para a função de meio-campista, ao lado de Casemiro, talvez de Arthur, para que o setor permita a Neymar, Firmino e Gabriel Jesus marcarem os gols que levem ao título mundial de 2022.

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