O Corinthians caiu para a Série B em 2007 com uma dívida de R$ 100 milhões e receita anual de R$ 70 milhões. O então diretor financeiro, Raul Corrêa da Silva, discursava sobre a dificuldade de arrecadar apenas 70 centavos para cada real devido.
Pela mesma conta, hoje o Corinthians arrecada só 56 centavos. Foram R$ 436 milhões de receita em 2019 e débitos de R$ 765 milhões, de acordo com o balanço que vazou nesta semana. Importante ponderar que R$ 212 milhões estão financiados no Profut. Mas é dívida.
Na década passada, Andrés Sanchez foi o líder do renascimento e levou para os principais departamentos algumas das pessoas mais qualificadas do mercado. Assim, entrou na administração do clube gente como Luiz Paulo Rosenberg, pai do plano Fiel Torcedor.
Raul Corrêa da Silva costumava responder sobre o tamanho do passivo, enorme para os padrões da época: “Se você sabe nadar, não importa se a piscina tem dois ou cinco metros de profundidade”. A frase tinha a ver com o entendimento do mercado sobre a capacidade de ganhar mais e de gastar menos.
Treze anos depois, o Corinthians chegou à mesma encruzilhada, com o mesmo presidente, Andrés Sanchez, que hoje admite estar cansado. Ele próprio diz que não vê a hora de seu mandato terminar, em dezembro, e afirma que não apoiará nenhum candidato, a não ser que seu grupo político escolha um —Duílio Monteiro Alves ou Paulo Garcia.
O Corinthians cavou um poço fundo por gastar demais nos últimos dois anos. No final do mandato de Mario Gobbi, em 2014, o custo anual do futebol era de R$ 238 milhões. No final do período de Roberto de Andrade, campeão brasileiro de 2015 e 2017, o departamento custava R$ 278 milhões. Em 2019, o total foi de R$ 435 milhões, pelo balanço que vazou.
Quer dizer que o Corinthians usa no futebol tudo o que arrecada num ano. Em 2014, período em que já gastava demais, sobravam R$ 56 milhões.
Tem saída. O Corinthians precisa gastar menos e pode ganhar mais. Andrés costuma apontar para a receita do Flamengo, de R$ 950 milhões em 2019, e observar que R$ 300 milhões vieram de vendas de jogadores. “Todo clube precisa vender”, diz Andrés.
Ocorre que o Flamengo vende porque revela. Mas ponderemos. Se a receita rubro-negra não tivesse esses R$ 300 milhões das negociações, cairia para R$ 650 milhões. E se o Corinthians tivesse o dinheiro dos ingressos, sua receita anual poderia subir para R$ 615 milhões —na Gávea, a projeção antes da Covid-19 era de R$ 180 milhões de bilheteria.
Nesse caso, Corinthians, Palmeiras e Flamengo estariam equilibrados na faixa dos R$ 600 milhões/ano. Não é o cenário atual, mas indica que se pode ganhar mais no Parque São Jorge.
Mesmo assim, é preciso gastar menos. Foram R$ 105 milhões em contratações em 2019.
Dinheiro gasto em jogadores como André Luiz, Richard, Boselli, Sornoza, Vágner Love, Danilo Avelar, Gil, Júnior Urso, Michel Macedo e Everaldo.
Há 2 anos, quando Jair Ventura conduziu o time à final da Copa do Brasil, Andrés dizia que o time precisava de amadurecimento e que os contratados de 2018 formariam o time competitivo de 2019. Falávamos de Araos, Bruno Méndez e Matheus Vital. Nenhum vingou. O Corinthians gastou muito porque contratou errado. O primeiro passo da retomada é evitar novos erros e parar de gastar. O segundo é explorar o estádio em suas áreas e dias ociosos e revelar jogadores. Vai entrar mais dinheiro.
No fundo, o Corinthians precisa de um choque de profissionalismo. Tem de reaprender a nadar.
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