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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Não é hora de fazer um minuto de silêncio pela morte do futebol brasileiro

Sentar e chorar os fracassos de seu político de estimação não vai fazer a bola entrar.

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Houve um minuto de silêncio na reunião da Comissão Nacional de Clubes, na terça-feira (26), e não foi por causa dos mortos pela Covid-19. Os dirigentes lamentaram ao saber que o projeto de lei 2125/2020 não terá mais os artigos que permitiam não depositar por seis meses o FGTS dos jogadores nem parcelar multas de rescisão e pagar só 50% do contrato.

Culparam o deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ), por não aceitar a relatoria do projeto, originalmente do deputado Arthur Maia (DEM-BA). Houve quem dissesse que a intenção era quebrar o futebol brasileiro para que os clubes tenham de aderir ao clube-empresa. Nada a ver.

Dirigentes mais sóbrios saíram da mesma reunião com a certeza de que o mais prudente era mesmo evitar a quebra de benefícios históricos dos jogadores e que não há maquiavelismo no Congresso. Há, obviamente, outras prioridades, quando o Brasil perde cerca de 30 mil vidas.

As vozes mais sóbrias entre os dirigentes entendem que será, sim, necessário auxílio. Haverá dificuldade, mas não pode haver pânico.

Espera-se pelo congelamento das parcelas do Profut por 180 dias, após o fim do decreto de calamidade pública. Mas todos sabem que os clubes em pior situação são os que colecionam calotes e problemas há tempos. Casos de Botafogo, Fluminense, Vasco, Santos, Cruzeiro e Atlético-MG.

O deputado Pedro Paulo não aceitou a relatoria de Arthur Maia, e não foi para produzir a quebradeira. Foi aconselhado a não esvaziar o seu próprio projeto, que caminha agora para convergência com o do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). A ideia da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) deve entrar no projeto do clube-empresa e isso demandará energia para aprovação.

Há resistência de muitos dirigentes a virar empresa. Ocorre que eles entendem que, se a situação se tornar insustentável, pode ser necessário aderir e eventualmente pedir recuperação judicial. Ninguém está propondo isso de maneira maquiavélica.

Como outros setores da economia, os clubes de futebol vão precisar de auxílio, com contrapartidas, para que antigos devedores não sejam novos caloteiros.

Mesmo se a convergência avançar no Senado, nenhum clube será obrigado a virar empresa. Há quem veja grandes vantagens. O Athletico estará pronto para a mudança estatutária e para aderir à SAF, assim que aprovada. Isso porque entende que o mercado para os clubes associativos está saturado.

As cotas de televisão não crescerão, os patrocinadores se retraíram há uma década e a chance concreta de criar novas fontes de receita é atrair investidores.

Só há duas maneiras de melhorar a saúde financeira. Uma é gastar menos e a outra é arrecadar mais. Os clubes precisam juntar as duas, porque para concorrer com o mercado europeu é necessário fazer mais dinheiro.

Ainda que cada dirigente tenha o direito de tomar sua própria decisão, os clubes associativos não vão aumentar receitas sem abrir mão da surrada lógica de revelar e vender jogadores todos os anos.

Melhorar a saúde do futebol e pensar nele como indústria sem criar novos modelos de gestão seria como jogar água mineral no rio Tietê e esperar que ele ficasse limpo.

Não é hora de fazer um minuto de silêncio pela morte do futebol brasileiro. Talvez esse momento tenha acontecido em 1980, quando começou a inesgotável cultura do êxodo de jogadores. A saída da pandemia será muito dura, exigirá trabalho, unidade e criatividade.

Sentar e chorar os fracassos de seu político de estimação não vai fazer a bola entrar.

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