Fábio Koff era o presidente do Clube dos 13, em 2010, e foi convidado para um jantar na casa de Juvenal Juvêncio. Em pauta, a criação de uma liga dos times da Série A do Brasileiro.
Tinha uma pedra no meio do caminho.
Sabendo da aproximação política, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, havia oferecido ao São Paulo a taça das bolinhas, aquela que seria entregue ao primeiro time cinco vezes campeão brasileiro, a partir de 1975, ano em que a Caixa Econômica Federal a instituiu.
Desde abril de 2010, o troféu estava à disposição do presidente tricolor, maneira com que Ricardo Teixeira pretendia separar São Paulo e Flamengo de um bloco de clubes com Athletico, Internacional e Palmeiras, os líderes da provável liga.
Do outro lado, o Corinthians queria negociar sozinho seus direitos de TV.
Juvenal terminou o encontro regado a uísque prometendo a Fábio Koff que não cairia na arapuca, ficaria imune à taça das bolinhas e não correria o risco de piorar a relação com o Flamengo, primeiro pentacampeão, considerando a Copa União de 1987.
Na manhã seguinte à promessa, Juvenal estava na sede da Caixa para ver a taça. Quando a recebeu em mãos, em fevereiro de 2011, a chance de unidade com o Flamengo se desfez. “Vou me deliciar com o troféu”, declarou Juvenal.
Parece puro amadorismo, e é, pensar que a tentativa de unir os clubes tenha sido jogada no ralo por causa de uma taça, que nem significa mais supremacia, depois da unificação dos títulos brasileiros.
A ruptura do Clube dos 13 aconteceu por motivo fútil e levou ao aumento do dinheiro de direitos de TV como um todo, mas aumentou o desequilíbrio entre os 20 clubes de maneira assustadora.
Há dez anos, questionado sobre a razão de permitir que a distância do Botafogo para o Flamengo aumentasse de 28% para 60%, o então presidente botafoguense, Maurício Assumpção, respondeu que precisava olhar para o dinheiro que entraria em seus cofres. Hoje, o Botafogo é sempre azarão contra o seu maior rival.
O Flamengo mira o Benfica, capaz de fazer sua própria TV e vender para sua torcida os seus jogos como mandante. O Benfica ganhou 5 dos últimos 6 campeonatos portugueses e nem se aproxima das semifinais da Champions League.
A famigerada MP do Flamengo é um equívoco do ponto de vista legal –medidas provisórias são para casos de urgência–, mas principalmente um erro estratégico.
Ainda que se possa argumentar que os clubes ingleses têm o direito de negociar individualmente, foi a força coletiva o fator que transformou o Campeonato Inglês do lixo para o luxo, de 1992 para 2020.
Depois de mais de uma década de brigas e picuinhas com a velha Football League –antes da atual liga, já havia outra velha e surrada-, Manchester United, Arsenal, Tottenham, Everton e Liverpool, chamados de “Big Five”, reuniram-se com Greg Dyke, da London Weekend Television, em outubro de 1990.
Em fevereiro de 1991, nasceu a mais moderna liga de futebol do mundo: a Premier League, sedimentada pelo dinheiro da Sky Sports, de Rupert Murdoch.
Em 1992, o melhor jogador inglês atuava na Itália. Hoje, a Inglaterra é a única grande seleção do mundo que só convoca jogadores de seu próprio campeonato, com uma eventual exceção: Sancho, do Borussia Dortmund.
Times médios, como o Bahia, pensam na criação de um bloco. Pode ser até que ganhem mais, como pensava o Botafogo em 2010. Mas a distância para os gigantes aumentará.
Os adolescentes brasileiros têm olhos cada vez mais vidrados nos times europeus e menos nos brasileiros. Se disputar um campeonato de um time só, até o Flamengo poderá perder torcedores para Liverpool, Manchester City, Real Madrid e Barcelona.
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