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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Jorge Jesus promoveu milagres no Brasil e sai com um único vacilo

Treinador português fez país voltar a pensar nos conceitos do futebol

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Em meio à pandemia do coronavírus, o Flamengo ponderou ter sido bom o fato de Jorge Jesus não ter respondido às primeiras propostas de renovação de contrato, sugeridas em fevereiro deste ano. Se houvesse dito sim naquela época, Jorge Jesus imporia ao clube rubro-negro um custo difícil de cumprir durante o confinamento.

Com a necessidade de um novo acordo, em junho, o Flamengo manteve o que pagaria em euros, mas condicionou uma parte ao recebimento como pessoa jurídica. Isso foi decisivo para Jorge Jesus dizer sim ao Benfica. Não pelo valor, mas porque a diminuição do contrato abrandou também a multa.

Nas condições discutidas em fevereiro, o Benfica teria de pagar perto de 14 milhões (R$ 86 milhões) de euros para rescindir o acordo com o Flamengo. O novo documento deu chance da rescisão por 1 milhão de euros (R$ 6,2 milhões).

Nas últimas semanas, Jorge Jesus teve conversas diárias com o presidente do Benfica, seu amigo Luis Filipe Vieira. Nesta quinta-feira (16), pela sucessão de informações desencontradas em Portugal, pareceu mais provável a permanência do que a saída. Isso, como se sabe, não se confirmou.

O Benfica pagará 3 milhões de euros (cerca de R$ 18,5 milhões) anuais por três anos de contrato e abrigará toda a comissão técnica de Jesus. Esse foi o último ponto do acordo, já que o técnico exigia levar toda a equipe.

Com a saída sacramentada, os rubro-negros conviverão entre a gratidão por cinco títulos e apenas quatro derrotas e a mágoa pela maneira como saiu. Decidir em silêncio é legítimo, e o único vacilo foi permitir o vazamento da informação antes do comunicado ao clube.

O Brasil também deve olhar para trás para entender o milagre de Jorge Jesus. Em 13 meses, discutimos xenofobia, o que parece um exagero, dado que nunca houve preconceito com jogadores estrangeiros. Darío Pereyra, Lugano, Tévez, Rincón, Petkovic, Sorín... Todos são ídolos.

Reserva de mercado é mais exato do que xenofobia. O olhar enviesado nasceu também do fato de a crítica condicionar o talento de Jorge Jesus ao atraso dos brasileiros. Uma coisa não está diretamente relacionada à outra. “Sou bom no Brasil, em Portugal, na China ou na Inglaterra", ele falou.

Modéstia à parte, Jorge Jesus tem razão. Mas também há bons treinadores aqui.

Seu maior milagre talvez tenha sido nos fazer debater o jogo. A infinidade de programas esportivos do Brasil discute tudo o que está relacionado ao futebol e, acredite, poucas vezes o conceito do jogo.

Jorge Jesus nos devolveu o gosto pelo ataque, pelas tabelas, nos fez discutir sua estratégia de posição na saída de bola, sua concentração de jogadores de um lado do ataque e as movimentações de seus craques atrás das linhas de volantes.

O milagre desse Jesus foi nos fazer voltar a pensar em futebol. No drible, no passe, na tática e na estratégia. O Flamengo vai procurar no mundo inteiro. É assim que se faz. O melhor técnico pelo preço acessível. Mesmo olhando todo o globo, não vai ser fácil encontrar alguém como Jorge Jesus.

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