Se não houvesse a pandemia, o Brasil jogaria nesta sexta-feira (9) contra a Colômbia, em Bogotá, e se prepararia para enfrentar a Argentina, na terça-feira (13), na Neo Química Arena.
O coronavírus provocou a mais longa abstinência de seleção desde 1987. Onze meses produzem incertezas e riscos.
Tite admite ser um desafio voltar a jogar em alto nível depois desse tempo. “Primeiro voltar a ter um bom futebol”, disse em entrevista a Carlos Eduardo Mansur, em O Globo. A dúvida aumenta, porque o Brasil jogou 22 vezes depois da Copa do Mundo e conta-se nos dedos as boas atuações: Peru, duas vezes, Argentina e Coreia do Sul. Só.
Depois de ganhar a Copa América, houve cinco jogos sem vitórias: empates contra Colômbia, Senegal e Nigéria, derrotas para Peru e Argentina. Tite admite que não estava bom. Pode ter a ver com o fato de serem amistosos, depois de tirar o peso das costas e vencer o torneio sul-americano em casa.
A Copa América parecia obrigação, e isso criava uma impensável saia justa. O título é pouco valorizado, e o vice-campeonato seria um fracasso retumbante.
O Brasil é, até hoje, refém de seu sucesso. Não tem como ser diferente.Quando for comum empatar com a Bolívia, o Brasil deixará de ser potência no futebol. Isso ainda não aconteceu, mas é preciso trabalho árduo, para voltar a se reconhecer como um dos mais fortes candidatos ao título mundial.
O Brasil de Tite tem seus pecados, e cada uma das grandes seleções também tem o seu. A mais longa sequência invicta é da Itália, com 14 vitórias e três empates, só duas derrotas desde que Roberto Mancini assumiu o cargo. Os italianos nem sequer se classificaram para a Copa da Rússia.
A Espanha não perde desde novembro de 2018, quando caiu contra a Croácia, mas empatou com Suécia e Noruega e tem uma coleção de adversários inexpressivos.
Na quarta-feira (7), a Alemanha empatou com a Turquia, que venceu a França, que perdeu da Holanda, derrotada pela Itália. Em 2019, a Inglaterra perdeu dos tchecos e a Argentina estreou nas Eliminatórias invicta há sete jogos, desde que caiu na semifinal da Copa América contra o Brasil.
A Bélgica coleciona 12 vitórias seguidas, depois de sofrer 5 a 2 da Suíça, em novembro de 2018. Tite ainda sonha com os belgas e pediu a Fernandinho para checar com De Bruyne se, de fato, o meia disse que o Brasil jogou melhor na derrota das quartas de final da Copa de 2018.
De Bruyne confirmou, o que indica que os belgas olham mais para o desempenho do Brasil do que nós mesmos.
Mas não nos serve.
Para a seleção, só servirá jogar bem e vencer. Tite sabe disso, razão pela qual repete há dois anos que o modelo vencedor da França não nos serve. O técnico francês, Didier Deschamps, planejou jogar em alto nível, mas abaixou sua marcação e ganhou a Copa do Mundo sem encanto. Foi apenas competitivo.
Ainda há sérias dúvidas sobre como, e se, o Mundial acontecerá no Qatar, em novembro de 2022. As eliminatórias da África só começarão em maio do ano que vem. E se houver a segunda onda do coronavírus?
Mesmo assim, importa ao Brasil entender seu tamanho entre as maiores potências e definir seu projeto para vencer a Copa do Mundo. Haverá dificuldades extremas, como a falta de jogos contra os europeus, pelo calendário.
Mas o Brasil não entra numa disputa de Copa do Mundo pensando em ser coadjuvante. Com seis meses de atraso, começa hoje o projeto para ser hexacampeão mundial. Um país que queima a Amazônia e o Pantanal precisa manter vivo algum orgulho nacional.
Que Tite consiga fazer a sua parte.
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