O maior mistério do São Paulo não é Fernando Diniz. É entender como a camisa tricolor deixou de ser vista como a de um time de chegada, para se tornar o objetivo da desconfiança.
Em 2008, quando tirou 11 pontos de distância e se tornou vice-líder com a mesma pontuação do Grêmio, era impossível não pensar: “O São Paulo será campeão”.
Na 33ª rodada, virou líder e não perdeu mais a ponta. Ganhou a taça em Brasília, contra o Goiás.
Atualmente, quando enfrenta o Internacional com chance de perder a primeira posição, é difícil não duvidar: “O São Paulo vai perder o campeonato”. No mesmo dia, sofreu a maior goleada de sua história, no Morumbi.
O Clube da Fé agora é sem fé.
Pode até recuperar a liderança se vencer o Coritiba e o Internacional perder o clássico contra o Grêmio. Nesse caso, retomará a primeira posição e não evitará que se desconfie de que o troféu pode ir para outro lugar.
Fernando Diniz é parte do problema, mas não é o pai dele. O presidente Julio Casares fala sobre refundar a Barra Funda. Trata-se de criar outra vez o ambiente vencedor, que o São Paulo perdeu há mais de uma década.
A pergunta é: por quê?
Depois do empate entre Athletico e São Paulo, um integrante da comissão técnica gaúcha ligou para Paulo Autuori e questionou se concordava com uma observação: “Senti o São Paulo tenso. Às vezes, chutavam a bola para a frente de forma aleatória.” A resposta afirmativa de Autuori fez parte da preparação colorada para o jogo do Morumbi.
“Quando eles forem cobrar tiro de meta, nós vamos marcá-los pensando que vamos fazer o gol”, disse Abel Braga na preleção. Praxedes tomou a bola de Vítor Bueno e deu origem ao terceiro gol, nos 5 a 1. Dos 11 gols sofridos pelo São Paulo em 2021, 5 foram em erros de saída.
Abel pressionou a saída porque a jogada de Diniz está marcada e também porque sentiu os jogadores são-paulinos nervosos.
Há aqui uma mistura dos problemas do passado com o presente. Há um ano, é comum discutir o estilo de Fernando Diniz a cada insucesso são-paulino. Os primeiros passes são sempre apontados como a personificação da imaturidade de Diniz como técnico.
É simplista.
O São Paulo chegou à liderança e a manteve por oito rodadas atuando assim. Também perdeu para Mirassol, River Plate, LDU e Lanús dessa maneira.
Nesta altura do primeiro turno, Diniz correu risco de ser demitido. Mexeu na equipe, devolveu os zagueiros mais fortes, Arboleda e Bruno Alves, escalou um volante marcador, Luan, e atenuou o problema da falta de desarmes. Tchê Tchê quase nunca recupera a bola.
No segundo tempo contra o Internacional, Fernando Diniz trocou o zagueiro Léo pelo atacante Vitor Bueno, recuou Luan para a quarta-zaga e pôs Tchê Tchê como volante. Dos cinco gols da maior goleada sofrida na história do Morumbi, três foram na segunda etapa. Tchê Tchê não desarmou nenhuma vez.
Fernando Diniz é jovem, está em seu terceiro ano de Série A e será melhor do que é hoje. Corre o risco, no entanto, de ficar marcado, se o São Paulo perder o campeonato. Injustamente, porque há problemas com os quais o São Paulo não convive por causa de Diniz. Vive com eles há 12 anos. Entra técnico, sai técnico.
O São Paulo precisa corrigir erros da atual equipe em tempo de ganhar o Brasileiro, atenuar o nervosismo de um time repleto de jovens antes da partida de sábado, contra o Coritiba.
Mas necessita, também, recuperar o ambiente de vitórias que existia em seu centro de treinamento. É mais difícil do que trocar de técnico pela décima vez em cinco anos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.