A Supercopa do Brasil ainda não tem a tradição dos torneios de abertura de temporada da Europa. Mesmo assim, a edição deste domingo (11), entre Flamengo e Palmeiras, conseguiu a proeza de ser ansiosamente aguardada, num final de semana de Real Madrid x Barcelona e com decisões judiciais que ora liberam, ora proíbem, os eventos esportivos em Brasília.
A rivalidade é inflada por redes sociais, pela fragilidade dos adversários históricos do Flamengo e pela suposição de que rubro-negros e alviverdes terão, no Brasil, a hegemonia de madridistas e catalães, na Espanha.
Não há sinais claros disso, mesmo que os três últimos títulos brasileiros tenham sido conquistados pelos dois desafiantes da Supercopa. Corinthians e Palmeiras ganharam os quatro troféus nacionais mais importantes de 2015 a 2018 e, nem por isso, percebeu-se uma polarização entre os —estes sim— eternos rivais.
A rixa Flamengo x Palmeiras é virtual, porque percebida mais nas redes do que nas ruas.
O antagonista do Palmeiras é o Corinthians, embora o goleiro Oberdan Cattani tenha morrido afirmando que o inimigo é o São Paulo, por ter tentado tomar o Parque Antarctica durante a Segunda Guerra Mundial.
No Rio, o rival do Flamengo é o Vasco e já foi o Botafogo, para uma geração que sofreu com o time de Garrincha e depois de Jairzinho.
Isso não significa que não tenham existido grandes confrontos entre palmeirenses e rubro-negros, tanto os célebres quanto os miseráveis.
A Mancha Verde nasceu da fusão de três facções uniformizadas, com o objetivo declarado de acabar com “a fama de bunda mole da torcida do Palmeiras”. A unidade com a Força Jovem, do Vasco, e a consequente inimizade com Jovem e Raça Rubro-Negra, fizeram parte de um cardápio de brigas de rua.
Conta-se que, no início da década de 1980, uma banca de jornais foi atirada de uma passarela da via Dutra sobre um ônibus de torcedores do Flamengo, a caminho de São Paulo.
A rivalidade boa, do campo de jogo, já deixou registros muito mais memoráveis. Em 1979, o Palmeiras goleou o Flamengo por 4 a 1, no Maracanã, e o massacre ajudou o palmeirense Telê Santana a ocupar o cargo de técnico da seleção, até então do rubro-negro Cláudio Coutinho.
No ano seguinte, o Flamengo devolveu a goleada com juros, metendo 6 a 2 num frágil Palmeiras dirigido por Osvaldo Brandão.
Em 1999, Euller conseguiu em três minutos marcar os dois gols de vantagem que o Palmeiras precisava para eliminar o Flamengo nas quartas de final da Copa do Brasil.
No último jogo daquele mesmo ano, Lê marcou aos 38 do segundo tempo e o empate por 3 a 3 deu o troféu da Copa Mercosul aos rubro-negros, dentro do Parque Antarctica.
Acredite: essa foi a única decisão direta de torneio oficial entre Flamengo e Palmeiras.
A rivalidade das redes sociais já foi alimentada por dirigentes, como quando o presidente Paulo Nobre mandou confeccionar a camisa do título de 2016, com a inscrição “Não deu nem para o cheirinho". Ou quando os jogadores do Flamengo cantaram, após os títulos de 2019, que o Palmeiras não tem Copinha nem Mundial.
Por enquanto, ainda parece apenas uma disputa de um momento específico, causada pela tentativa de dois clubes se sobressaírem, como aconteceu com Flamengo e Atlético-MG, na década de 1980, e Palmeiras e Grêmio, nos anos 1990.
Se a rixa ficará para sempre e se disputas nacionais se tornarão soberanas em comparação com eternas rivalidades estaduais, só o tempo e novos clássicos como o da Supercopa dirão.
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