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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Superliga europeia não vingará sem olhar para critério técnico

Nova proposta elitista foi tão rejeitada porque as coisas mudam rapidamente no futebol

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Há uma tentação brasileira de comparar a Superliga europeia à Copa União de 1987. Nada a ver. O Clube dos 13 nasceu há 34 anos, depois de a CBF anunciar não ter dinheiro para organizar o Campeonato Brasileiro. Quando os principais clubes se uniram, a CBF voltou atrás e deu numa confusão que nos impede, até hoje, de dizer em paz quem foi o campeão daquele ano.

Antes da Copa União, a ideia da Superliga europeia já existia. Seu pai é Silvio Berlusconi, magnata das comunicações, depois proprietário do Milan e, mais tarde, líder de direita que piorou a Itália. Como dirigente de futebol, foi visionário.

Queria a ruptura com a Uefa e uma supercompetição com os times mais ricos. Nunca conseguiu. Mas sua proposta virou ameaça em pelo menos cinco oportunidades, que foram fazendo com que a velha Copa dos Campeões da Europa se tornasse a nova Champions League.

O Milan foi campeão europeu em 1989 numa final contra o Steaua Bucareste, vencedor de 1986. Você imagina um time da Romênia em duas decisões em três anos? Era possível porque só jogavam a Copa dos Campeões da Europa os campeões dos países europeus —a redundância tenta mostrar que era óbvio.

A partir da temporada 1997/98, entraram os vice-campeões de Alemanha, Inglaterra, Portugal, França, Espanha e Itália. Em 1999/2000, a Uefa aceitou terceiros e quartos colocados dos três países mais bem ranqueados: Itália, Alemanha e Espanha, nessa ordem. Também os terceiros colocados de França, Holanda e Inglaterra.

Veja a contradição. A atual proposta de Superliga prevê seis clubes ingleses, que na grande reforma da Champions só tinha direito a três participantes, por ser o sexto país no ranking.

Porque as coisas mudam rapidamente, a nova proposta elitista da Superliga foi tão rejeitada. O maior pecado é desprezar os critérios técnicos e dar lugar cativo aos históricos. Os três gigantes italianos não conseguiram vaga nas quartas de final, nem da Liga Europa, nem da Champions League. A Roma, única classificada, não está na liga. Nem a Atalanta.

Mais do que a Copa União ou do que as reformas que transformaram a Champions League no verdadeiro supertorneio do planeta, revolução houve na Inglaterra. A criação da Premier League, em 1991, propôs ruptura com a velha e corrupta liga inglesa. O Campeonato Inglês nunca foi organizado pela Football Association, a CBF deles. Sempre pela liga.

Torcedor protesta contra Superliga europeia no estádio do Arsenal, um dos 12 fundadores
Torcedor protesta contra Superliga europeia no estádio do Arsenal, um dos 12 fundadores - Tolga Akmen/AFP

Tratava-se de uma entidade corrupta e mantida pelas relações com os times pequenos. Liverpool, Arsenal, Manchester United, Everton e Tottenham romperam e criaram a Premier League. Sempre com acesso e descenso.

A transformação foi o profissionalismo e cuidar do campeonato como um jardineiro cuida de seu jardim. Tudo baseado no critério técnico.

O fato de Arsenal, Manchester United e Liverpool terem acionistas majoritários norte-americanos faz com que pensem o futebol como franquias, como se fosse a NFL ou a NBA. Daí a reação imediata de Alex Ferguson e Gary Neville, ao dizerem que os proprietários precisam respeitar uma história centenária.

Dos 12 fundadores da nova versão da Superliga, 9 frequentaram a segunda divisão de seus países. As exceções são Internazionale, Barcelona e Real Madrid. Sinal de que os poderosos de hoje podem ser os pedintes de amanhã.

Zvonimir Boban, craque croata contratado por Silvio Berlusconi em 1991, é o novo executivo da Uefa. Sua missão é fazer a composição política para que os 12 gigantes joguem uma nova Champions League e abandonem a velha-nova ideia da Superliga.

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