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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Superliga ressuscitou mitos no Brasil e na Europa

Por lá, iniciativa fracassou porque as torcidas tiveram coragem

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Grande sacada da Heineken: “Não beba e crie uma liga". A marca holandesa patrocina a Champions League desde a temporada 1994/95. “O único pacote de 12 que está à venda”, escreveu o brilhante marqueteiro da cervejaria em outra peça, com a fotografia de uma caixa de garrafinhas ao fundo.

O número 12, em referência aos clubes fundadores da Superliga, é a maior coincidência com o Brasil, e não a Copa União, porque, como você já leu nesta coluna, o Clube dos 13 nasceu quando a CBF anunciou que não poderia promover o Campeonato Brasileiro de 1987. Quem rompeu foi a CBF. Na Europa, os times.

Até o meio dos anos 1980, os estaduais eram classificatórios para o torneio nacional. Igual à Champions League atual. São Paulo tinha seis representantes, o Rio indicava cinco, o Rio Grande do Sul e Minas Gerais dois. Todos os campeões de seus estados tinham lugar.

Então, veio o acordo de que os 24 mais bem classificados no Brasileirão 1986 formariam a Série A do ano seguinte. Pela primeira vez, acesso e descenso em nível nacional.

A CBF roeu a corda, os 12 mais tradicionais times do Brasil se uniram e convidaram o Bahia, décima torcida do país, de acordo com a pesquisa Placar/Gallup de 1983. Em seguida, chamaram Coritiba, Santa Cruz e Goiás. Nasceu a Copa União com 16 participantes.

Na Europa, a ruptura aconteceu enquanto a Uefa negociava a reforma da Champions para oferecer mais dinheiro aos gigantes. Parecido com 1992, quando Berlusconi ameaçava criar a Superliga e nasceu a Champions League.

A tentação de comparar com a Copa União trouxe de volta também alguns mitos. Como o de que o América-RJ desapareceu do Brasileiro porque foi excluído do torneio de 1987. Semifinalista de 1986 e com direito de formar a nova Primeira Divisão, o América não entrou no gramado e perdeu todos os jogos do Módulo Amarelo por WO. Mas voltou à Série A em 1988.

Só aí foi rebaixado de verdade, junto com Santa Cruz, Criciúma e Bangu. Apenas os dois cariocas nunca mais retornaram. Isso diz mais sobre o Rio de Janeiro do que sobre a Copa União.

O Clube dos 13 não virou Liga porque os dirigentes foram covardes. Na Europa, a Superliga fracassou porque as torcidas tiveram coragem.

No Brasil, os dirigentes se conformaram com o fato de ter um campeonato nacional com acesso e descenso. As torcidas europeias não se conformam com uma liga sem rebaixamento.

A grande revolução é a Premier League, nascida para acabar com a velha liga inglesa, mantida por dirigentes nanicos e pela corrupção. O novo Campeonato Inglês nasceu rompendo com o passado e manteve os critérios por mérito esportivo.

Antes da Premier League, a medíocre Lazio conseguia comprar o melhor jogador da Inglaterra, Paul Gascoigne, em 1991. Cinco anos depois, um Chelsea comum, pré-Abramovich, foi capaz de tirar Gianfranco Zola do Parma, na era Parmalat.

A Itália passou de Meca a mico. Os ingleses passaram de mico a Midas.

O Brasil nunca levou a sério a necessidade de entrar nesse circuito. Nenhum time daqui jogaria a Champions League. Porém, poderíamos ser a quarta liga do planeta, melhores tecnicamente do que a França, mais imprevisíveis do que Itália e Alemanha.

Se o Brasil fizesse seu grande campeonato, Boca e River quereriam jogar aqui.

Enquanto isso, a Champions League anuncia para 2024/25 um novo formato, com grupo único de 36 clubes. Mas cada time só jogará dez vezes. Os oito melhores se garantem nas oitavas de final. Do nono ao 24º colocados se reagrupam na repescagem, para conhecer os outros oito finalistas. É a Europa imitando o Brasileirão da década de 1970.​

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