A última vez em que dois gigantes de São Paulo não se classificaram até o oitavo lugar foi em 1976. O Corinthians terminou em 11º, o Santos em 13º e até o São Paulo, fora desse fiasco, ocupou a sétima colocação.
O Palmeiras foi campeão, o XV de Piracicaba ficou em segundo lugar e o fiasco foi inexplicável.
Exceto para o Santos, que podia explicar sua pior campanha da história pelo luto pós-Pelé. Isso, há 45 anos, quando o estadual era a base do calendário.
O fiasco de 2021 é autoexplicativo. Passamos os últimos vinte anos dizendo que estadual não é parâmetro e debatendo sua irrelevância. A eliminação num ano de calendário emendado, em que o Santos disputou 35 partidas e o Palmeiras 37, até o Dia das Mães, não é de se comemorar.
Ano passado, Vanderlei Luxemburgo foi demitido em 14 de outubro, depois de 36 partidas. Neste maio, o Palmeiras já disputou 37.
O caso do Santos é particular. O risco de rebaixamento, até o último jogo, é resultado de más administrações anteriores, do início de uma nova gestão, inexperiente, e da renúncia do técnico Ariel Holan.
A sequência de mudanças táticas, imperceptível a olho nu, é notada sem microscópio por quem vive o futebol por dentro. Jorge Sampaoli pressionava a saída de bola, Cuca atrasava o bloco e explorava a velocidade, Ariel Holan era posicional e Marcelo Fernandes mudou a estratégia.
O Santos de Holan usou 17 jogadores em cinco partidas da Libertadores, sendo oito da base (47%). No Estadual, foram 37 escalados, 28 formados na Vila (71%).
A direção assume o erro de ter informado ao treinador argentino que o Paulista não era prioritário. Assustou-se com o risco de descenso, que só sumiu com o gol de Lucas Braga. A comemoração mostrou como havia peso sobre as costas dos meninos.
De Marcelo Fernandes, também. Sobrinho-neto de Antoninho Fernandes, técnico tricampeão paulista em 1969 e campeão do Robertão de 1968, Marcelo é um dos raros 11 técnicos campeões pelo Santos, em 109 anos de história. Mudou a estratégia, passou a jogar com titulares tanto no Paulista quanto na Libertadores.
O cansaço poderia matar o time. Ao contrário, salvou. Não dava para enfrentar o São Bento sem o time principal, porque o eventual rebaixamento não seria um vexame, mas uma cicatriz eterna.
Se não tem importância ser rebaixado no Estadual, por que perguntamos até hoje se o São Paulo sofreu o descenso, em 1990? Mesmo que o regulamento daquele ano tenha escrito, em negrito: “Não haverá descenso.”
Não houve.
Antes de Fernando Diniz, o Santos conversou com Renato Gaúcho e Lisca. Há coerência pela tentativa de jogo ofensivo. Também há diferenças de estilo e, taticamente, o Santos mudará a partir de terça-feira (11), contra o Boca Juniors. Vai se transformar bastante em comparação com Holan, Cuca, Jesualdo e Sampaoli.
Fernando Diniz pedirá poucos e pontuais reforços, montará o time com pressão e posse de bola e terá respeito pelo DNA santista. Mas vai mexer.
A incoerência não é um problema do Santos, mas de todo o futebol brasileiro. Até de nós, que dizemos por décadas que estadual não vale nada, mas cobramos o tamanho do vexame da eliminação.
MASSACRES
A superprodução de goleadas na América, com Palmeiras 5 x 0 Del Valle, Internacional 6 x 1 Olimpia, Grêmio 8 x 0 Aragua não indica necessariamente a força dos brasileiros. River e Boca crescem nos mata-matas. Mas jogar todos os anos ajuda.
SEM TORCIDA
O fenômeno de torcer para seu time perder para o rival se dar mal é muito brasileiro –e mesquinho. A Lazio já ganhou da Inter, mesmo podendo dar o troféu à Roma. Se houvesse torcida, em Itaquera, seria difícil. Louve-se a dignidade do Corinthians e Fábio Santos.
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