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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Eurocopa vence Copa América em estilo e beleza

A olho nu, parece que só o Brasil joga num nível semelhante ao dos europeus

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O repórter Divino Fonseca cobriu a Eurocopa de 1988 para a revista Placar e determinou um olhar diferente para a mudança tática que já existia: “Acabou a posição, viva a função.” Isso, que está no vocabulário dos treinadores, já existia 33 anos atrás.

Também naquela época nasceu uma expressão para definir as diferenças entre os jogos do Brasileirão, tipo exportação, para o praticado na Eurocopa. “É outro esporte.”

A frase se tornou quase um clichê. Não é por serem maneiras diferentes de interpretar a mesma modalidade que não possa haver um sul-americano campeão do mundo, no ano que vem.

Mas a globalização escancara a distância atual. “É outro patamar”, disse-me Fabrício, porteiro rubro-negro do prédio onde resido, no Rio de Janeiro. “Hoje, eu gosto mesmo é de ver as partidas na Europa.”

Alemanha esmagou Portugal, com desenho semelhante ao do Brasil, mas uma capacidade de empurrar o adversário absolutamente distinta - Matthias Hangst - 19.jun.21/AFP

A olho nu, a comparação entre os primeiros dez dias de Eurocopa e de Copa América faz parecer que só o Brasil joga num nível semelhante ao deles. A observação dos números faz duvidar também dessa hipótese. As cinco melhores seleções europeias trocam mais de 500 passes por partida. Na América do Sul, só o Paraguai alcançou esse número, empurrado por ter enfrentado a Bolívia, na estreia.

O Brasil tem em média 480 passes, número semelhante ao da França, campeã mundial. Tite posiciona seus jogadores no ataque, e a França marca atrás do meio de campo. Sofreu ao precisar construir a vitória contra a Hungria.

A dúvida se o Brasil terá nível para brigar pelo título mundial existe muito pela desconfiança de quatro eliminações contra europeus. Mesmo assim, Tite parece num caminho justo. O abismo Europa x América se amplia na observação dos números de todo o torneio, não da seleção. Em média, os europeus trocam mais passes (425 x 392), finalizam mais (11 x 10), desarmam (12 x 16) e cruzam (18 x 19) menos.

A grande diferença, no entanto, está na imposição. A Alemanha esmagou Portugal por 4 a 2, com desenho tático semelhante ao do Brasil, mas uma capacidade de empurrar o adversário para trás absolutamente distinta. A semelhança era empurrar cinco atacantes para perto da área rival. A diferença foi a capacidade de moer o atual campeão europeu.

O Brasil venceu bem a Venezuela e o Peru, sem produzir a mesma empolgação. A Holanda, contra a Macedônia do Norte, sobrepôs-se de modo semelhante ao dos alemães, embora seja necessário relativizar a qualidade do adversário.

A Argentina pode até ganhar a Copa América. É outro esporte. Mais cadência, menos posse de bola, menos troca de passes, menos finalizações, menos pressão na saída do rival, mas Messi.

É possível que a índole trituradora de Alemanha, Holanda, Bélgica e Itália não vença nem sequer a Euro. Que surja a França, com seu pragmatismo e seus craques –especialmente Mbappé– como fez na Copa do Mundo.

Lembre-se de que a campanha francesa não foi homogênea, na Rússia. Houve atuação burocrática contra o Peru, firme contra a Bélgica e brilhante contra a Argentina.

Também não é de hoje que se repara na diferença entre o estilo europeu e a cadência sul-americana. O que está claro neste mês é que há muito mais beleza e atratividade no que se vê na Eurocopa.

Não percamos de vista que há mais de 30 anos tem sido mais agradável assistir às Eurocopas do que às Copas Américas. Atualmente, há agravantes.

Há torcida lá, mas não aqui. A Euro é disputada no verão, e a Copa América, no inverno. Mas a impressão deixada pela comparação dos jogos é a de que a Europa vive uma imensa e bela primavera do futebol, enquanto parecemos viver num outono sem fim, repleto de folhas secas.

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