PVC

Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

PVC
Descrição de chapéu Rússia

Impaciente com técnicos, futebol brasileiro vai perder chance de evoluir

Em dois anos, ex-país do futebol se desfaz de treinadores estrangeiros como fez com brasileiros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O encanto com o trabalho do argentino Juan Pablo Vojvoda, do Fortaleza, confundiu-se nesta semana com o desencanto com Miguel Angel Ramírez, do Internacional. É absurdo como nós, brasileiros, mudamos de ideia rapidamente. Ramírez era a sensação, a novidade, o cheiro de transformação que o futebol brasileiro precisava.

Todo mundo sabia que seu Independiente del Valle era capaz de golear o Flamengo por 5 a 0, em Quito, e de levar 4 a 0 no Maracanã. Também se conhecia sua adoção pelo jogo de posição, grosso modo o modelo em que a bola vai até o quadrante do jogador, não o inverso.

A admiração pelo espanhol durou 21 partidas.

Ninguém levou em conta que Ramírez, aos 36 anos, era o mais jovem treinador do Brasileiro e poderia precisar de um tempo de adaptação. Ele próprio disse que, se o Brasil não mudar, não vai evoluir.

Não vai.

É um pecado que esse ex-país do futebol tenha, em dois anos, saído da certeza de que os treinadores brasileiros estavam superados e desatualizados para o período em que os estrangeiros são tratados do mesmo jeito. Se não ganharem, rua.

Homem branco calvo com barba e usando agasalho preto gesticula com a mão esquerda em sinal de "pare"
Técnico espanhol Miguel Ángel Ramírez foi demitido do Internacional após eliminação da Copa do Brasil - Silvio Avila/AFP

É um absurdo demitir Miguel Angel Ramírez depois de 21 jogos, como foi assustador dispensar Domènec Torrent após 23 partidas. A lista segue com Jesualdo Ferreira (15 jogos), Ariel Holan (12), Sá Pinto (13), Ramón Díaz (3), Rafael Dudamel (10).

Incluídos os pedidos de demissão de Jorge Sampaoli e Eduardo Coudet e o rebaixamento de Gustavo Morínigo, do Coritiba, a Série A teve 11 clubes com 14 treinadores estrangeiros nos últimos 18 meses. Restam quatro: Abel Ferreira, Antonio Oliveira, Hernán Crespo e Juan Pablo Vojvoda.

O intercâmbio continua aperfeiçoando nosso repertório, mesmo vendo Crespo e Vojvoda marcando por encaixe, como manda Marcelo Bielsa e como fazem treinadores brasileiros, como Cuca. É bom ampliar o debate sobre o jogo. Todos os estrangeiros ajudaram, de algum modo, a melhorar nossa cultura tática.

A mais recente vítima de nossa impaciência é Abel Ferreira. O empate com o Corinthians aumentou a insatisfação de parte da torcida.

Inaceitável é a palavra usada no dicionário da intransigência, quando se percebe que o Palmeiras foi eliminado da Copa do Brasil pelo CRB. Perder não é normal –só que é. Volte no tempo e temporadas extremamente vencedoras, como a de 1994, tiveram eliminação da Copa do Brasil pelo Ceará.

Abel Ferreira era acusado de só ter o contra-ataque, quando venceu a Copa do Brasil e fechou a temporada 2020 com 33% de gols marcados dessa maneira. De março para cá, são 51 gols, 20% de contragolpe.

O índice diminuiu, em parte porque as jogadas palmeirenses ficaram mais conhecidas, em parte porque o time tenta construir o jogo desde a defesa. Abel Ferreira segue acreditando ter uma equipe equilibrada.

Entrar em campo 49 vezes entre 6 de janeiro e 12 de junho também a ajuda a explicar as oscilações, jornadas inspiradíssimas com outras medíocres.

O Liverpool levou 7 a 2 do Aston Villa, 4 a 1 do Manchester City e ninguém pensou em demitir Jurgen Klopp. Guardiola beijou a medalha de prata da Champions League. Se fosse aqui, alguém poderia dizer que é falta de vontade de vencer.

Um dia vão inventar vacina contra a estupidez.

Desenho de campo de futebol com a escalação do time Internacional, em esquema 4-3-3
O Internacional de Ramírez no 4-3-3: jogo de posição - Folhapress
Ilustração da escala do Palmeiras. O time joga em escala 4-3-3
O Palmeiras de Abel no 4-3-3: mudança de estilo - Folhapress

Passo a passo

Sylvinho voltou a usar Fábio Santos como lateral esquerdo, o que melhora o entendimento tático da defesa. Para o time, sem talento nem criatividade, o primeiro passo é organização. Foi o mesmo caminho com Vágner Mancini. Não adianta interromper de novo.

Firmeza

Tite foi claro ao explicar que é contra a realização da Copa América e mais ainda ao retornar ao sistema com Renan Lodi como lateral pela esquerda. Para vencer uma defesa de cinco homens, cinco atacantes. Falta ainda ser mais criativo e empolgante.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.