O encanto com o trabalho do argentino Juan Pablo Vojvoda, do Fortaleza, confundiu-se nesta semana com o desencanto com Miguel Angel Ramírez, do Internacional. É absurdo como nós, brasileiros, mudamos de ideia rapidamente. Ramírez era a sensação, a novidade, o cheiro de transformação que o futebol brasileiro precisava.
Todo mundo sabia que seu Independiente del Valle era capaz de golear o Flamengo por 5 a 0, em Quito, e de levar 4 a 0 no Maracanã. Também se conhecia sua adoção pelo jogo de posição, grosso modo o modelo em que a bola vai até o quadrante do jogador, não o inverso.
A admiração pelo espanhol durou 21 partidas.
Ninguém levou em conta que Ramírez, aos 36 anos, era o mais jovem treinador do Brasileiro e poderia precisar de um tempo de adaptação. Ele próprio disse que, se o Brasil não mudar, não vai evoluir.
Não vai.
É um pecado que esse ex-país do futebol tenha, em dois anos, saído da certeza de que os treinadores brasileiros estavam superados e desatualizados para o período em que os estrangeiros são tratados do mesmo jeito. Se não ganharem, rua.
É um absurdo demitir Miguel Angel Ramírez depois de 21 jogos, como foi assustador dispensar Domènec Torrent após 23 partidas. A lista segue com Jesualdo Ferreira (15 jogos), Ariel Holan (12), Sá Pinto (13), Ramón Díaz (3), Rafael Dudamel (10).
Incluídos os pedidos de demissão de Jorge Sampaoli e Eduardo Coudet e o rebaixamento de Gustavo Morínigo, do Coritiba, a Série A teve 11 clubes com 14 treinadores estrangeiros nos últimos 18 meses. Restam quatro: Abel Ferreira, Antonio Oliveira, Hernán Crespo e Juan Pablo Vojvoda.
O intercâmbio continua aperfeiçoando nosso repertório, mesmo vendo Crespo e Vojvoda marcando por encaixe, como manda Marcelo Bielsa e como fazem treinadores brasileiros, como Cuca. É bom ampliar o debate sobre o jogo. Todos os estrangeiros ajudaram, de algum modo, a melhorar nossa cultura tática.
A mais recente vítima de nossa impaciência é Abel Ferreira. O empate com o Corinthians aumentou a insatisfação de parte da torcida.
Inaceitável é a palavra usada no dicionário da intransigência, quando se percebe que o Palmeiras foi eliminado da Copa do Brasil pelo CRB. Perder não é normal –só que é. Volte no tempo e temporadas extremamente vencedoras, como a de 1994, tiveram eliminação da Copa do Brasil pelo Ceará.
Abel Ferreira era acusado de só ter o contra-ataque, quando venceu a Copa do Brasil e fechou a temporada 2020 com 33% de gols marcados dessa maneira. De março para cá, são 51 gols, 20% de contragolpe.
O índice diminuiu, em parte porque as jogadas palmeirenses ficaram mais conhecidas, em parte porque o time tenta construir o jogo desde a defesa. Abel Ferreira segue acreditando ter uma equipe equilibrada.
Entrar em campo 49 vezes entre 6 de janeiro e 12 de junho também a ajuda a explicar as oscilações, jornadas inspiradíssimas com outras medíocres.
O Liverpool levou 7 a 2 do Aston Villa, 4 a 1 do Manchester City e ninguém pensou em demitir Jurgen Klopp. Guardiola beijou a medalha de prata da Champions League. Se fosse aqui, alguém poderia dizer que é falta de vontade de vencer.
Um dia vão inventar vacina contra a estupidez.
Passo a passo
Sylvinho voltou a usar Fábio Santos como lateral esquerdo, o que melhora o entendimento tático da defesa. Para o time, sem talento nem criatividade, o primeiro passo é organização. Foi o mesmo caminho com Vágner Mancini. Não adianta interromper de novo.
Firmeza
Tite foi claro ao explicar que é contra a realização da Copa América e mais ainda ao retornar ao sistema com Renan Lodi como lateral pela esquerda. Para vencer uma defesa de cinco homens, cinco atacantes. Falta ainda ser mais criativo e empolgante.
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