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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

No vestiário da seleção feminina de futebol, 'Anunciação', de Alceu Valença, virou hino

Ao mesmo tempo em que chega para mudar a nossa cultura, Pia joga na cara nossas riquezas

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A imagem de Pia Sundhage tocando “Anunciação”, de Alceu Valença, ao piano, é um exemplo do que ela pretende nos mostrar. Ao mesmo tempo em que chega para mudar a nossa cultura e dizer ao futebol do Brasil que é possível usar o talento a serviço do coletivo, ela joga na cara nossas riquezas.

Pia já tinha cantado ao violão a canção de Alceu Valença, que é mais sucesso ao redor do mundo do que aqui mesmo no Brasil. O maior hit do compositor pernambucano, por aqui, é "Tropicana", de 1981. Mas em Portugal, por exemplo, ele é mais conhecido por “Anunciação”.

Quem apresentou a música à treinadora sueca foi o supervisor de seleções femininas da CBF, Miguel Ernesto. Ela se apaixonou. Mas, como se viu nos vídeos com Daniel Alves, Matheus Cunha e Diego Carlos tentando cantar, a letra completa não é tão popular quanto o refrão “Tu vens, tu vens... Eu já escuto os teus sinais”.

A primeira estrofe é de incrível beleza, por tratar do mistério enevoado das coisas mais ardentes que brotam dentro do peito, como o amor de uma menina por um esporte que chegou a ser proibido para mulheres no Brasil:

“Na bruma leve das paixões que vêm de dentro, tu vens chegando pra brincar no meu quintal. No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento, e o sol quarando as nossas roupas no varal.”

Sem contar a aula de língua portuguesa, tal qual professor Pasquale, ao tratar da bruma –a névoa e o segredo ao mesmo tempo. Ou do clarear das roupas nos varais, com um verbo tão comum no Nordeste quanto esquecido no Sudeste do país, onde a vida nos grandes condomínios dificulta secar, quanto mais quarar suas roupas.

Alceu Valença nasceu torcedor do Sport, jogou basquete pelo Náutico e se afastou da paixão clubística por se sentir um traidor quando torcia pelo rubro-negro contra o Timbu, ou o inverso.

Mas se lembra, com a clareza dos lençóis brancos quarados nos varais, do Sport campeão pernambucano de 1957: Manga, Bria e Osmar; Zé Maria, Mirim e Pinheirense; Roque, Traçaia, Liminha, Carlos Alberto e Géo.

O ponta esquerda fez sucesso depois no Palmeiras, campeão paulista de 1959, e no Sporting, vencedor da Recopa da Europa em 1964. Traçaia é o maior goleador do Sport em todos os tempos.

E Manga... Bem, você conhece a história do Manguinha, hoje residente do Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, graças à generosidade do ator botafoguense Stepan Nercessian, graças à informação do jornalista Marcelo Gomes, da ESPN.

O Brasil anunciará a medalha no futebol feminino se vencer o Canadá na manhã desta sexta-feira (30). E, no masculino, se ganhar do Egito, no sábado (31).

Marta é alagoana, estado vizinho de Pernambuco, de Alceu Valença. Matheus Cunha, autor do primeiro gol da vitória sobre a Arábia Saudita, é paraibano de João Pessoa.

Não há duas capitais tão próximas quanto João Pessoa e Recife, de onde Alceu Valença se projetou para o mundo.

Toda medalha de ouro é bem-vinda, mas a da seleção das melhores futebolistas do Brasil pode transformar o futuro do esporte por aqui.

Vitórias das mulheres contra o Canadá, na sexta-feira, e dos homens contra o Egito, no sábado. E o Japão poderá amanhecer o primeiro dia de agosto aos versos de Alceu Valença: “Cada um entende a música como quer”, diz o autor.

“Nos anos 1980, eu cantava nos comícios das Diretas e diziam que a canção anunciava a volta da democracia. Hoje, que anuncia a medalha de ouro. Que seja assim”, diz Alceu.

No vestiário da seleção feminina, a canção virou um hino.

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