A direção do Palmeiras entendeu que não havia necessidade de interferência na polêmica que se seguiu à substituição de Dudu. O técnico Abel Ferreira afirmou que não há jogador mais importante do que a instituição. O atacante postou no Instagram: “Quem está no clube há anos e anos, como eu, sabe muito bem disso”.
Abel não tem histórico de problemas com jogadores, diferentemente de seu mestre, José Mourinho. A competência do atual treinador da Roma nunca foi discutida. Sua liderança, muitas vezes.
O processo de amadurecimento de Abel Ferreira parece exigir-lhe o contrário. É bom de grupo, mas precisa interferir melhor nos jogos.
Hoje, Cuca está mais para José Mourinho do que o jovem seguidor. Por muito tempo, o treinador do Atlético foi acusado de dar curto-circuito no vestiário. O contraponto é sua capacidade de prever ou enxergar o que se passa nos 90 minutos.
Na terça-feira (21), toda a imprensa sabia que o Galo escalaria o quarteto Nacho, Zaracho, Hulk e Diego Costa. Pouquíssimos julgavam possível o Palmeiras com Felipe Melo e Rony. A surpresa de Abel na formação inicial contrastou com a arapuca armada por Cuca, que puxou Allan para fazer saída de jogo em três homens e escalou seus dois laterais no ataque.
Abel Ferreira chegou ao Allianz Parque sorrindo e anunciando: “Vamos atacar o que eles têm de melhor”. Parecia indicar que Rony jogaria às costas de Arana, e o verbo não deixa dúvidas de que ele não pretendia defender-se, exclusivamente. Não conseguiu agredir.
O Palmeiras tem usado Marcos Rocha como terceiro zagueiro, e Cuca espelhou o sistema. Com os dois laterais como pontas, protegidos por Allan, com Zaracho como volante, em vez de partir da extrema, e Nacho circulando da esquerda para o meio, Arana ficou livre e obrigou Rony a persegui-lo, enquanto Abel pretendia exatamente o inverso.
Houve mérito do Atlético e, mesmo que não se tenha visto beleza na primeira semifinal da Libertadores, é nossa função perceber a estratégia. Obviamente, partidas não são vencidas apenas pelo efeito surpresa. Mas ajuda, quando há muito equilíbrio.
O treinador do Galo é dos mais detalhistas do continente. Recebeu esse reconhecimento de Marcelo Gallardo, ao pé de seu ouvido, na saída do Mineirão, depois de Atlético 3 x 0 River Plate.
O mestre de Abel Ferreira, José Mourinho, sempre foi estrategista. Mesmo acusado de vencer o Barcelona com um ônibus à frente de sua grande área, ganhou o jogo de ida daquelas semifinais de Champions League 2010 atacando o Barça, em Milão.
Também não há dúvida de que Guardiola é mais brilhante do que Thomas Tuchel e, no entanto, perdeu a decisão da Champions League para o Chelsea, num clássico tático que ajuda a nos lembrar que os jogos opacos não são exclusividade da Libertadores.
Mourinho está distante de seus melhores dias, muito em função de os jogadores conversarem entre si e as lideranças inquisitórias não colarem mais.
Razão pela qual Abel Ferreira precisa seguir sem grandes arranhões nas conversas internas de vestiário, seu ponto forte. Mas a decisão de terça-feira exigirá mais.
Abel precisa inovar com uma jogada, uma armadilha, uma novidade que perturbe Cuca. Neste momento das duas carreiras, o técnico do Atlético é melhor nisso.
Abel criou apenas um burburinho, ao anunciar Rony e Felipe Melo como titulares. Parou por aí. Muita gente acertou os 11 atleticanos 24 horas antes de a bola rolar. Ninguém cravou que Cuca mudaria as funções de metade deles.
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