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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Cena de menino de 9 anos sendo hostilizado por torcedores do Santos rodou o mundo

As imagens mostram um futebol brasileiro enfermo, um país doente

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O fundador da 1190 Sports, que distribui os direitos internacionais do Campeonato Brasileiro, comemora um ano de sucesso do projeto no mundo. São mais de cem países assistindo às Séries A e B e o contrato recém-assinado com a ESPN garantirá distribuição em toda a América Latina.

"Não se pode conquistar o mundo sem ser rei em seu próprio território", argumenta Hernan Donnari. Há parcerias nos Estados Unidos, com Univision e Paramount Plus, e pode-se assistir às partidas em território norte-americano também pelo aplicativo Brasileirão Play.

"Nenhum país que assistiu aos campeonatos do Brasil no primeiro ano quis devolver. Todos mantiveram para novos períodos". Casos de países como Rússia, Ucrânia, Turcomenistão, Uzbequistão e antigas repúblicas soviéticas. Portugal também é um cliente importante. Jorge Jesus e Abel Ferreira aumentam o interesse por lá.

Ao mesmo tempo em que o futebol brasileiro finalmente se preocupa em atravessar fronteiras, as imagens mostram um futebol enfermo. Ou pior: um país doente.

Menino santista de 9 anos gravou vídeo pedindo desculpas por ganhar camisa de Jailson, do Palmeiras
Menino santista de 9 anos gravou vídeo pedindo desculpas por ganhar camisa de Jailson, do Palmeiras - Reprodução

O caso do menino de 9 anos, torcedor do Santos, teve repercussão em todos os canais portugueses. A invasão da torcida do Grêmio e a destruição da cabine do VAR, depois do jogo contra o Palmeiras, também foi vista no mundo todo.

As cenas de violência não preocupam em excesso os executivos que distribuem o Brasileiro. Julgam que quem tem acesso às rodadas completas e aos programas de melhores momentos que pertencem aos pacotes percebe que há casos em um jogo, não em todos.

Precisa preocupar quem organiza.

Frase repetida à exaustão, quando se cobrava dos dirigentes adesão às medidas sanitárias, no ápice da pandemia, o futebol não é uma bolha.

Se o país vive uma onda de intolerância, se ela se espalha pelas redes antissociais, revela ataques racistas e homofóbicos, se até um jogador de vôlei demonstra sua indignação com uma história em quadrinhos, se a sociedade está doente, o futebol é parte disso.

E expõe de maneira exuberante como a intransigência alcançou níveis insuportáveis. "Mais uma briga de torcida, termina tudo em confusão", é verso da canção "Desordem", dos Titãs, gravada em 1987.

Não se trata só desse tipo de conflito.

"Que país é este" foi gravada pela Legião Urbana em 1988 e a canção que dá nome ao disco era do Aborto Elétrico, de dez anos antes. Renato Russo cantava "ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação", enquanto o centrão dava o tom do governo Sarney, com Cazuza gritando: "Meu cartão de crédito é uma navalha".

Quase 35 anos depois, meu partido é um coração partido.

Torcedores do Grêmio invadem o gramado da Arena na derrota para o Palmeiras, pelo Brasileiro
Torcedores do Grêmio invadem o gramado da Arena na derrota para o Palmeiras, pelo Brasileiro - Raul Pereira - 31.out.2021/AFP

Os distorcedores da Vila Belmiro distorcem o jeito de torcer e atacam a criança de 9 anos porque ela queria uma camisa do adversário. A imagem deste Brasil atravessou o oceano e foi exibida de Portugal à França, de onde Jorge Sampaoli enviou sua solidariedade e uma camisa do Olympique.

Se a doença não é exclusividade do futebol, a cura pode passar por ele. Este país já estava desorientado em 2019.

Gabigol preparava-se para subir ao gramado do Allianz Parque. Já trajado com o uniforme completo do Flamengo, foi abordado por um mascote, todo vestido de Palmeiras: "Quero ver seu gol hoje", disse o garoto. Espantado, Gabigol perguntou: "Ué, você não é palmeirense?" O menino deu a réplica: "Sou. Vai ser 2 a 1 para o Palmeiras. Quero ver gol seu!".

Melhor ter essa esperança ou a de uma canção de Gilberto Gil: "Quem sabe, o Super-Homem venha nos restituir a glória, mudando como um Deus o curso da história".

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