Abel Ferreira mudou o posicionamento de Gustavo Gómez no dia 17 de outubro. Foi a primeira vitória do Palmeiras depois de sete partidas sem vencer e de três jogos sem seu melhor zagueiro, cedido à seleção paraguaia.
No retorno, Gómez passou a treinar e a jogar pela direita, inversão de lado com Luan. Oito dias depois, o Palmeiras venceu o Sport por 2 a 1. Questionado sobre escapadas para o ataque, o técnico português respondeu: "Vocês podem não saber, mas Gustavo jogou como lateral no Milan."
Enquanto parte dos críticos insistiam em dizer que o Palmeiras só tem o contra-ataque, Abel Ferreira aumentava o cardápio tático. O Flamengo é o time com mais gols de contra-ataque no Brasileiro.
De um terço dos gols construídos de contra-golpe na época da final da Libertadores contra o Santos, o Palmeiras passou a ter só 12% antes da decisão contra os rubro-negros. Abel Ferreira fez seu time com saída de três homens com Marcos Rocha por trás ou invertendo o lado com Piquerez – foi assim em Montevidéu.
Fez seu time atacar com cinco avantes com o lateral esquerdo na ponta ou com Mayke, como na jogada do primeiro gol, de Raphael Veiga. Ainda há quem não enxergue em Abel Ferreira mais do que o contra-ataque ou a retranca. Que me desculpem os míopes. O português tem estratégia.
Com os mesmos jogadores da derrota para o Fortaleza, montou sistema completamente diferente. Scarpa foi ponta-direita no Castelão, ala esquerdo no Centenário, onde atacou no 3-4-3 e defendeu-se com um 5-4-1.
Defensivamente, era o desenho tático do Chelsea, na final da Champions contra o Manchester City.
Gustavo Gómez fazia a cobertura a Mayke, o marcador de Bruno Henrique, que não conseguiu usar seus dribles e arrancadas. Danilo marcou De Arrascaeta, capaz de criar a jogada do gol de Gabigol dois minutos depois da saída de seu marcador, machucado. Zé Rafael vigiava os deslocamentos de Everton Ribeiro, com Scarpa fechando o corredor do chileno Isla.
Raphael Veiga foi decisivo com o gol e com a marcação de William Arão. Quando recuperava a bola, o Palmeiras jogava.
Abel Ferreira ainda teve a simplicidade de afirmar que Renato é melhor técnico do que ele: "Tem mais títulos." Deixou claro seu agradecimento ao Brasil e explicou por que razão pode ir embora: o calendário insano. "Eu não consigo dar meu melhor."
Um treinador de 42 anos sabe que pode interferir mais nos jogos se puder dar treinos e criar estratégias, em vez de ser cobrado por escalar reservas e perder para o São Paulo, enquanto pretendia apenas treinar uma nova estratégia: "Temos um plano."
Óbvio que há o acaso, que Deyverson não teria marcado se Andreas Pereira não errasse a passada. Mas Deyverson só estava em campo porque Abel respeita o momento de cada jogador. Assim como Breno Lopes, em janeiro, o menino maluquinho marcou na terça-feira anterior à finalíssima da América. Decidiu.
Abel Ferreira não é Jorge Jesus. Seu time é menos espetacular e sua capacidade de aplicar a teoria à prática é maior. Abel tem o repertório teórico.
Não consegue aplicá-lo na insanidade do Brasil.
Se for embora, fará falta. Se não for, não se desenvolverá como pode.
Nós não vamos aprender nunca?
O pior ataque
A vitória sobre o Sport diminui o risco do rebaixamento e permite projetar o time de 2022. O ataque terá de melhorar e ainda se registra o pior desempenho ofensivo são-paulino da história do Brasileiro. Contra o Sport, oito finalizações certas, o segundo melhor índice com Ceni.
Outra rotação
O Corinthians sofreu contra o Athletico, porque o rival é forte. Ganhou pela oitava vez em casa, porque a torcida empurra. Mas a vitória veio no segundo tempo, porque Willian muda a rotação do time. Com ajustes finos, o Corinthians pode ser forte no ano que vem.
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