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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Olhar para Brasília faz parecer que o país piorou mais do que o futebol

Com o hexa improvável, que 2022 seja o ano da autocrítica do futebol: admitir o que melhorou e trabalhar no que precisa evoluir

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A editoria de esportes desta Folha abriu 1º de janeiro de 2002, ano do penta, com uma pesquisa exclusiva do Datafolha. Mostrava 58% da população com o desejo de manter Felipão como técnico para a Copa do Mundo.

Como o treinador estava no cargo havia apenas seis meses, onze jogos, seis vitórias e cinco derrotas, a resposta não parecia ser absurda. A pergunta era.

Como é que se mudaria o técnico da seleção, no primeiro dia do ano da Copa, se estava apenas começando seu trabalho? Passados vinte anos, tem gente que gostaria de discutir o mesmo sobre Tite.

Tite durante partida entre Brasil e Colômbia pelas eliminatórias da Copa do Mundo - Nelson Almeida - 11.nov.2021/AFP

Olhar para Brasília faz parecer que o país piorou mais do que o futebol.

A última edição da Folha de 2001 informava que tinha havido superlotação em São Januário, na decisão do Brasileiro de um ano antes.

Lembra? Em 30 de dezembro de 2000, a finalíssima Vasco x São Caetano foi paralisada aos 23 minutos do primeiro tempo, porque o alambrado caiu e feriu mais de 200 torcedores. O árbitro Oscar Roberto Godói estava pronto para reiniciar a partida, quando veio ordem do governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, exigindo o cancelamento.

São Januário tinha perto de 35 mil torcedores e o último relatório de liberação pela Defesa Civil datava de 1976.

O futebol brasileiro está melhor, neste aspecto. Pode-se ir a todos os estádios de São Paulo de metrô, assim como ao Maracanã. Os lugares são sentados e a reclamação de parte da crítica, hoje, é de as arenas receberem apenas a elite.

Quem vai ao setor norte do Allianz Parque paga R$ 139 mensais e nenhum centavo a mais para assistir aos quatro jogos por mês, o que dá uma conta de R$ 34 por jogo. É mais barato do que ir ao cinema aos domingos.

Também não se fez alarde sobre o fato de que ir ao estádio não requer mais tratamento de boiada e que se pode chegar a todos os palcos paulistanos nos trilhos do metrô. A melhora, evidente em alguns aspectos, não exclui a noção do que andamos para trás em outros.

É muito bom não haver xenofobia e aceitarmos técnicos estrangeiros. A provável chegada de Jorge Jesus ao Atlético fará os três times mais ricos do país serem dirigidos por portugueses.

Em 2001, antes de Felipão ser contratado, discutiu-se a possibilidade de treinadores estrangeiros na seleção. O nome citado era o do sueco Svem Goran Eriksson, por falar português e ter trabalhado pelo Benfica. A pesquisa da Folha tinha 26% a favor da queda de Felipão. Como alternativas, só se apontava para os veteranos, como Zagallo, Parreira ou Luxemburgo.

Campeão da Copa do Brasil de 2001, Tite tinha 2% da preferência. Nenhum estrangeiro era citado. O jornalista inglês Tim Vickery escreveu coluna, como colaborador, em que julgava absurdo o otimismo em relação ao desempenho, na Copa do Mundo, de uma seleção classificada aos trancos e barrancos.

Há três dias, o investidor do Atlético-MG, Rubens Menin, de férias nos Estados Unidos, disse que o Brasil não fará boa campanha na Copa e que precisa trabalhar para voltar a ser referência. Tem toda a razão sobre a necessidade de trabalho, ainda que o acaso possa ajudar que venha o hexa.

O penta não era provável, como se percebe revisando os jornais de vinte anos atrás.

O ano novo pode ser do hexa, embora não seja provável. Que seja, então, de nossa autocrítica. Admitir o que melhorou, trabalhar no que precisa evoluir, para voltar a ser um centro de cultura do jogo, o país do futebol.

Se o Brasil tivesse feito isto de maneira serena, não teríamos regredido trinta anos em civilidade.

Feliz 2022!

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