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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Não pode ser ídolo alguém apenas por ser capaz de dar um drible

Só é ídolo quem demonstra caráter, de modo impecável, por décadas

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A secretária eletrônica tinha um certo deboche, mas era o retrato do que o Brasil inteiro pensava: "Alô, aqui é o Robinho, melhor do mundo do ano que vem." Como ele se transferiu do Santos para o Real Madrid em 2005, muita gente imaginava que seria ele o sucessor de Ronaldinho Gaúcho.

Ele próprio pensava.

Ronaldinho, eleito duas vezes pela Fifa, foi preso por um caso nebuloso, de possível falsificação de documentos, no Paraguai, em 2020.

Crime tem graduação. O de Robinho é ainda pior.

Estupro é hediondo, repulsivo.

Não está em discussão qualquer chance de inocência. Robinho foi condenado em última instância. Sua pena tem de ser cumprida, e o melhor caminho talvez seja um acordo para se entregar à Justiça italiana.

Improvável.

Robinho não pode levar a palavra ídolo ao lado de seu nome - Ivan Storti - 13.out.20/Santos FC

Muitos jogadores, desses mimados desde a pré-adolescência, aprendem que podem fazer tudo. Não podem. Toda generalização é arriscada. A pergunta é se o ambiente deforma o caráter deste novo produto do esporte, o craque pop star.

Além de Robinho, que jogou por Santos, Real Madrid, Milan, Manchester City e seleção brasileira, outro atleta de Copa do Mundo foi preso sob acusação de violência sexual: Benjamin Mendy. Lateral campeão mundial pela França e inglês pelo Manchester City, foi levado à prisão de segurança a máxima e depois solto mediante pagamento de fiança. É acusado por sete casos de estupro cometidos contra cinco mulheres diferentes.

Meses antes da prisão, Mendy foi detido por dirigir sem habilitação seu automóvel Lamborghini, avaliado em R$ 6 milhões.

Ele também achava que podia tudo.

A culpa não é do ambiente. É do estuprador.

No passado, quando um jogador dava sinais de violência, temia-se que pudesse ter final parecido com o de Almir Pernambuquinho, assassinado em 1973.

Almir se metia em todos os tipos de confusão dentro de campo. Já aposentado, tentou defender um grupo de atores, vítimas de homofobia, em frente a um bar, em Copacabana. Caiu morto, com uma bala na cabeça.

Almir foi vítima.

Robinho está condenado, e Mendy foi preso.

João Saldanha dizia querer craques para jogar em seu time, não para se casar com sua filha. Por décadas, o futebol validou esse tipo de pensamento. Ou sorriu, ao repetir frases que explicavam ascensão e queda meteóricas de atletas-celebridades: "Gastei a maior parte de meu dinheiro com mulheres, carros e bebidas. O resto, desperdicei", dizia o atacante norte-irlandês George Best, morto em 2005, aos 59 anos.

O Brasil é o país com maior número de feminicídios no mundo. Há casos em outros países, em outros esportes, como Mike Tyson. E, no passado, o caso Cuca. Também de pop stars da música, como Chuck Berry. Hoje é Robinho, o moço que jogava sorrindo e agora está "rindo, porque ela estava tão bêbada que nem sabe o que aconteceu"...

Robinho jamais saberá como se sente a moça albanesa que festejava seu 23º aniversário na noite em que foi estuprada. Também nunca mais poderá levar a palavra ídolo ao lado de seu nome. Mais adequado também será se todos nós tivermos cuidado ao usar esse vocábulo. Não pode ser ídolo alguém apenas por ser capaz de dar um drible. Só é ídolo quem demonstra caráter, de modo impecável, por décadas.

Inevitável lembrar experiências com atletas de outras gerações. Quando estava no Japão, Zico atendia ao telefone de madrugada e, só depois da entrevista, solicitava que o repórter tivesse cuidado e a próxima ligação acontecesse em outro horário, mais cedo.

Era mais fácil conversar com o Galinho do que com Robinho.

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